“Ainda não recebemos nem analisamos dados a nível populacional dos registos oncológicos em Portugal para podermos dar informação precisa sobre o impacto da pandemia em Portugal”, ressalvou a vice-chefe do departamento de vigilância do cancro da Agência Internacional de Pesquisa em Cancro (IARC) da OMS, Isabelle Soerjomataram, em declarações à Lusa.
A responsável explicou que “com base em vários dados hospitalares de que se dispõe, há uma redução de casos de cancro durante o pico da pandemia, o que pode estar relacionado com perturbações no sistema de saúde devido à Covid-19, mas também com a hesitação das pessoas em sair para obter o diagnóstico do seu cancro”.
Os mesmos dados também mostram que os serviços oncológicos foram interrompidos durante o pico de 2020 – ano dos primeiros casos de infeção por SARS-CoV-2 -, mas um estudo da OMS que analisou pacientes com cancros digestivos indica que, em termos de serviços prestados, se conseguiu prestar “um nível de cuidados semelhante ao prestado antes da pandemia”, disse a especialista.
Esse estudo também “não mostrou mortes extras” por cancro durante a pandemia, salientou Isabelle Soerjomataram, explicando que, ao contrário do esperado, o impacto da covid-19 parece ter sido mínimo.
“Embora não tenhamos dados nacionais, podemos ver que houve interrupções no diagnóstico, com atrasos provavelmente maiores durante os primeiros meses da pandemia, mas ainda não há provas de que a pandemia tenha causado um aumento nas mortes por cancro”, frisou.
O aumento destas mortes, registado em muitos países, “está mais provavelmente ligado às alterações populacionais (envelhecimento) e também às mudanças nos fatores de risco do cancro”, concluiu Isabelle Soerjomataram.
A OMS, na semana passada, revelou estimativas de um aumento de 35,3 milhões de novos casos de cancro em 2050, mais 77% do que os 20 milhões de casos registados em 2022, e defendeu que o álcool, o tabaco e a obesidade contribuem para o aumento.
O rápido crescimento da carga global de cancro reflete o envelhecimento e o crescimento da população, segundo a OMS, bem como as alterações na exposição das pessoas a fatores de risco, muitos dos quais associados ao desenvolvimento socioeconómico.
“O tabaco, o álcool e a obesidade são fatores-chave por detrás do aumento da incidência do cancro, sendo a poluição atmosférica ainda um fator-chave dos fatores de risco ambientais”, anunciou na altura a organização.
LUSA/HN
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