Unidade Local de Saúde São José denuncia impossibilidade de contratar mediadores ciganos

11 de Fevereiro 2024

A Unidade Local de Saúde São José, em Lisboa denuncia a dificuldade em contratar mais mediadores ciganos por a carreira não ser reconhecida, sublinhando que o único que existe é fundamental.

Esta unidade integra entre outras os hospitais da Estefânia, Santa Marta, São José, Curry Cabral, Capuchos e a Maternidade Alfredo da Costa, e é o único em Lisboa no qual trabalha um mediador sociocultural cigano, que é um assistente operacional porque a carreira não está devidamente reconhecida.

Em entrevista à agência Lusa, Paulo Espiga, membro do conselho de administração da ULS sublinhou que ter um mediador cigano “é algo estratégico”, tendo em conta a população que se dirige aos vários hospitais e que “tem uma determinada forma de estar na vida quando algum dos seus familiares está doente”.

“Eu tenho que saber respeitar o espaço dos outros e ter um mediador, ter o Bruno neste caso, é algo que vai além desta questão do comportamento porque estamos a falar de uma população, os portugueses de etnia cigana, que têm um nível de literacia em saúde muito inferior à média”, observou Paulo Espiga.

Salientou que em causa estão o nível de educação e de pobreza, que “trazem resultados em saúde e níveis de saúde muitíssimo baixos”.

“Estas pessoas estão em desvantagem logo à partida”, alertou, apontando que todas as pessoas têm necessidades, mas que às vezes é preciso acautelar respostas diferentes para ter as necessidades de todos supridas.

Exemplo disso, apontou Paulo Espiga, está no facto de a unidade ter um mediador sociocultural cigano, cuja função é exatamente a de fazer a ponte entre as pessoas ciganas e os diferentes serviços hospitalares, orientando-as e ajudando-as a compreender como é que tudo funciona.

“É absolutamente essencial termos um mediador porque de facto tira esta diferença, esta desvantagem que as pessoas tinham à partida e que muitas vezes gerava conflitos”, defendeu, referindo que as pessoas chegam aos hospitais ansiosas e com medo, o que ajuda a gerar conflito pela “instabilidade emocional muito grande”.

Por outro lado, adiantou, somam-se a baixa iliteracia, desconfianças e “preconceitos absolutamente enraizados”, que, juntos, levam a comportamentos que não são adequados.

“Isto gerava conflito e conflito leva a mais conflito e o trabalho que temos vindo a fazer com o Bruno é exatamente o de diminuir o conflito de algumas situações”, explicou o responsável.

Para Paulo Espiga, “é absolutamente estratégico e não contingencial” a aposta num mediador e defende a necessidade de mais pessoas com esta função, “não tanto para a questão de conflito, mas para a questão de capacitar” as pessoas que se dirigem aos hospitais, para que percebam por que razão vão a uma consulta ou por que é que não são imediatamente atendidas, por exemplo.

“Muitas vezes não sabiam [navegar no sistema] e achavam que isto era contra elas por serem ciganas e não porque era para elas como era para qualquer outro que não soubesse perguntar”, apontou.

No entanto, salientou, apesar da importância da função, não pode contratar mais mediadores porque a carreira não existe e a função não é devidamente reconhecida, o que obriga o atual e único a dividir-se por seis hospitais.

Segundo Paulo Espiga, os únicos quadros de pessoal que consideram mediadores ciganos são os do Ministério da Educação e das autarquias, que são autónomos, apontando que terá de ser a entidade responsável pelo emprego público “a prever que nos quadros de pessoal, neste caso da saúde, possam existir mediadores” e desbloquear a atual situação.

E lembrou que a necessidade fala por si, já que outros hospitais de Lisboa frequentemente pedem que este mediador os ajude, o que demonstra que “há uma necessidade”.

NR/HN/Lusa

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