A prescrição social procura responder às necessidades sociais, emocionais e quotidianas dos utentes dos cuidados de saúde, ligando-os aos recursos disponíveis na comunidade, através de respostas individualizadas e adaptadas às necessidades específicas de cada pessoa.
“Portugal, apesar de ser um dos países com maior esperança de vida na Europa, está no topo da lista dos com menos anos de vida saudável e todos os desafios que temos no presente, mas também pela frente, com o envelhecimento, o aumento das doenças crónicas, o aumento das necessidades em saúde mental, o isolamento social e a solidão têm vindo a advogar a necessidade de uma aposta forte na promoção da saúde e na prevenção da doença”, disse à Lusa a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP-Nova), Sónia Dias.
A solução para estes desafios que são, em grande parte, determinados por fatores sociais, económicos e ambientais, deve ser promovida de forma sistémica, integrando os setores social e da saúde.
“Sabemos cada vez mais que as determinantes sociais estão a ter um impacto muito grande no estado de saúde das populações e da necessidade de integrar cuidados entre a saúde e o social mas, na verdade (…) ainda temos um caminho longo a percorrer”, salientou.
Segundo a investigadora, a prescrição social, um movimento que nasceu no Reino Unido, parte de “uma necessidade real” dos profissionais de saúde, “quando são confrontados com questões de necessidades emocionais, sociais, do quotidiano da vida das pessoas que têm impacto na sua saúde”.
Muitas vezes, os profissionais sentem que as respostas clínicas que estão ao seu alcance não são suficientes para responder de uma forma mais preventiva, sustentou.
As respostas podem passar por atividade física, jardinagem, por participar em atividades culturais como aulas de dança, grupos de teatro, de música, ou ir, por exemplo, ao teatro, a museus.
“Há um conjunto muito grande de atividades e recursos da comunidade que podem, de alguma maneira, beneficiar estas populações”, sobretudo as que experienciam maiores vulnerabilidades.
Já existem projetos que estão a ser desenvolvidos em diferentes regiões do país com impactos positivos para os utentes, como a redução do isolamento, da ansiedade e de outras necessidades de saúde mental, melhoria da qualidade de vida e bem-estar.
Mas também com impactos para o sistema de saúde – redução do número de consultas nos cuidados de saúde primários, episódios de urgência e internamentos -, e para a sociedade – maior proximidade entre os setores da saúde, social e cultural, facilitando o acesso aos recursos da comunidade, reforço do sentido de pertença e da coesão social e territorial.
Desde 2018 que os investigadores têm vindo a trabalhar com as equipas no terreno e começaram a perceber que havia um grande empenho em impulsionar a expansão da prescrição social no país.
“Começámos a organizar a rede em 2023 e já conta com um conjunto de parceiros e diversos setores da sociedade que se estão a agregar para impulsionar este movimento e também para podermos no fundo contribuir para maiores ganhos em saúde, a sustentabilidade do sistema de saúde e para comunidades mais saudáveis e inclusivas”, vincou Sónia Dias.
A Rede Prescrição Social Portugal integra investigadores, profissionais multidisciplinares, cidadãos, gestores e decisores políticos, e ambiciona “reforçar a intervenção da prescrição social, construir amplas parcerias institucionais e implementar projetos-piloto e boas práticas”.
Hoje será também disponibilizado o primeiro manual de Prescrição Social.
LUSA/HN
Excelente a criação da Rede Prescrição Social! E, do Manual!