“Temos que estar todos unidos neste propósito. Este não é um plano de emergência de um só Governo. Acho que deve ser um plano de emergência do Serviço Nacional de Saúde, em que todos os profissionais, todas as ordens, todas as associações devem estar unidos para termos um plano mais forte, que capacite o SNS”, disse Xavier Barreto à agência Lusa.
O administrador hospitalar falava à Lusa após o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter anunciado na quarta-feira, no parlamento, que o programa de emergência para a saúde será apresentado dentro de duas semanas.
Segundo Luís Montenegro, programa vai incidir na recuperação dos tempos de espera para cirurgias, em particular as mais problemáticas, por exemplo, as oncológicas, e vai “ter foco especial na obstetrícia”, além de um plano de resposta para os cerca de 1,5 milhões de portugueses sem médico de família.
Além do programa de emergência, Xavier Barreto lembrou que também existe o plano de verão, que deverá manter “uma lógica de funcionamento rotativo”, porque não existe “melhor solução neste momento”.
“O plano de emergência é um conjunto de medidas para melhorar a prestação de cuidados de saúde em Portugal e muito focado na questão do acesso que é a questão central”, nomeadamente a consultas em tempo adequado, a cirurgias ou até o acesso ao serviço de urgência, sublinhou.
Segundo o responsável, a associação tem medidas para cada uma destas dimensões, algumas das quais já apresentou durante o período eleitoral.
“Mais recentemente temos estado disponíveis para dar contributos ao Governo para melhorar o acesso. É isso que temos feito e é isso que vamos continuar a fazer”.
Uma das medidas que a associação propôs foi para promover um maior acesso à primeira consulta de especialidade.
“Três quartos das consultas que fazemos são para acompanhar doentes crónicos. Portanto, a questão que devemos colocar é se faz sentido continuarmos a acompanhar doentes crónicos de forma periódica, mesmo sabendo que muitos desses doentes são estáveis, não têm necessidade de alteração farmacoterapêutica, não têm necessidade de revisão do seu caso (…) ou, ao invés disso, ocupar mais os médicos a fazer primeiras consultas, a fazer diagnóstico de doentes que estão há meses ou há anos à espera de uma consulta”, questionou.
Para Xavier Barreto, existe uma margem para que os doentes crónicos passem a ser acompanhados de uma outra forma como, por exemplo, através de consultas de enfermagem, nos cuidados de saúde primários, de teleconsulta, de uma maior colaboração com as farmácias, libertando tempo para os médicos poderem fazer mais primeiras consultas.
“Esta correção da proporção entre primeiras consultas e consultas para doentes crónicos tem, no nosso entender, que ter uma mudança drástica e imediata”, defendeu.
Defendeu, por outro lado, que “a urgência não pode ser a única porta aberta para o doente agudo” não urgente, argumentando que tem haver “uma forma descentralizada” para os atender.
“O doente agudo não urgente deve ter uma resposta” nos cuidados de saúde primários que devem ter sempre “uma porta aberta” e não “uma resposta episódica, pontual, só no inverno em que abrem alguns centros de saúde”, disse, defendendo também respostas para estes doentes nas farmácias para situações menos graves, como uma infeção urinária ou uma constipação, como já é feito em muitos países.
Defendeu igualmente que pode ser dado um outro tipo de apoio médico e de serviços de saúde, através das equipas de cuidados domiciliários, aos doentes que estão em lares e unidades de cuidados continuados, para que não tenham que ser transportados para uma urgência, mas possam antes ser atendidos, vistos diagnosticados, tratados na instituição.
“São estas propostas que nós vamos propor para o plano de emergência. Muitas delas não terão um efeito imediato, naturalmente, muitas delas demorarão alguns meses a ter algum efeito, mas também já ninguém acredita em balas de prata”, comentou.
“Isto precisa de tempo, precisa de perseverança, precisa de alguma coragem e de alguma continuidade nas políticas. Nos nossos contactos com o Governo, temos insistido neste ponto de que é muito importante que existam acordos entre os principais partidos do arco da governação para fazer mudanças estruturais, para fazer mudanças que às vezes podem ser entendidas como mais disruptivas, mas as políticas de saúde precisam de continuidade”, defendeu.
LUSA/HN
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