“Assentis é a freguesia mais distante da sede do concelho, com escassos transportes, com população envelhecida e de parcos recursos, e é difícil compreender que digam à população que a alternativa é na cidade de Torres Novas”, afirmou à Lusa Manuel José Soares, porta-voz dos utentes da saúde.
Por isso, acrescentou, a comissão está “a preparar uma iniciativa pública” reivindicativa de cuidados de saúde de proximidade que vai juntar a população em plenário no dia 07 de novembro, na Junta de Freguesia.
Segundo Manuel Soares, o problema da falta de médico de família numa freguesia com cerca de 2.500 habitantes e que dista 17 quilómetros da sede do concelho “não se prende apenas com questões de ordem clínica, mas também de ordem burocrática, com as necessidades dos utentes ao nível de baixas, atestados médicos”, entre outros.
O problema, notou, arrasta-se desde 2022 e afeta uma população maioritariamente idosa, sendo colocado pontualmente um médico na freguesia, mas sem se conseguir a fixação dos clínicos.
“O que se passa é que não se consegue arranjar médico que de alguma forma possa lá ficar de forma permanente, o que era agora o caso, porque a médica que adoeceu pertence aos quadros do SNS [Serviço Nacional de Saúde] e foi-lhe atribuído aquele ficheiro. As coisas iam caminhando normalmente, [mas] houve um episódio de doença da médica e neste momento não há substituto”, explicou.
Contactada pela Lusa, a Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo confirmou a ausência de um clínico em Assentis, assegurando que “reforçou todos os esforços para atrair profissionais para os cuidados de saúde primários em todos os concelhos da região”.
“Neste caso, a ULS Médio Tejo já está a ultimar uma solução temporária para a ausência da médica da extensão de Assentis, por motivo inesperado de doença súbita. A prestação de cuidados de saúde aos utentes desta freguesia está a ser garantida através da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Torres Novas”, acrescentou.
Na resposta à Lusa, o conselho de administração da ULS indicou ainda que, para resolver o problema da falta de médicos, tem focado a sua estratégia em três eixos.
“Continuar a aumentar, potenciar e comunicar a atratividade de desenvolvimento das carreiras médicas na região do Médio Tejo a recém-especialistas, através da diferenciação da instituição, otimizar e reorganizar os recursos humanos existentes, para garantir a máxima cobertura possível e minimizar os impactos na população face a constrangimentos, e encontrar soluções face a situações de ausências por motivos inesperados – como em Assentis”, referiu.
Contudo, de acordo com a CUSMT, o problema no Médio Tejo não se cinge a Assentis, já que apesar de existirem concelhos com “coberturas razoáveis”, como Ferreira do Zêzere e Entroncamento, outras freguesias estão com “muitas dificuldades”, nomeadamente em Tomar, nas freguesias de São Pedro e Beselga, e também em Constância, Sardoal, Abrantes, Mação e Alcanena.
“São situações que se têm de ir resolvendo dia a dia, porque não há disponibilidade de profissionais para trabalhar nos cuidados de saúde primários, foram abertas 26 vagas, foram preenchidas quatro. Portanto, dá uma ideia da dimensão do problema que existe em termos de conseguir médicos para trabalhar nas unidades de cuidados de proximidade”, afirmou Manuel Soares.
O porta-voz dos utentes de saúde defendeu, por isso, a necessidade de “encontrar soluções para os meios rurais e para os meios mais isolados”, insistindo que “essas pessoas também precisam de cuidados de saúde e cuidados médicos” de proximidade.
“Até defendíamos criar uma equipa devidamente remunerada que pudesse ser uma espécie de pronto-socorro para poder ir resolver os casos mais urgentes onde há falta de médicos e, por outro lado, e há legislação aprovada, a contratualização de médicos estrangeiros, o que poderia, de alguma forma, resolver o assunto”, declarou.
NR/HN/Lusa
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