Emergência climática tem de ser emergência de saúde pública

9 de Janeiro 2025

A emergência climática tem de ser considerada uma emergência de saúde pública, diz o Observatório Português da Saúde e Ambiente (OPSA), que considera que a ligação saúde-ambiente tem sido negligenciada.

No primeiro Relatório Saúde e Ambiente, que é hoje divulgado na Fundação Gulbenkian, o OPSA afirma que apesar da intervenção do Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), no período de discussão pública do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC2030), “este ignorou considerações sobre o domínio Saúde-Ambiente”.

Também a nível internacional a relação tem sido esquecida, como nas conferências da ONU sobre o clima (COP), nas quais “nem todas as determinantes ambientais da saúde recebem a devida atenção”. A última COP, em finais do ano passado, foi apenas a segunda vez em 29 em que um dia foi dedicado à saúde.

O documento de cerca de 200 páginas contém alertas sobre a situação mundial em termos de alterações climáticas, perda de sustentabilidade, poluição e outros fatores que colocam em perigo a existência futura de vida humana no planeta.

“Desde 1970 o planeta Terra perdeu a capacidade de regeneração” para sustentar a população, refere o documento, recordando que as alterações climáticas estão a suceder-se ao ritmo dos “cenários mais pessimistas”.

“Confirma-se que o ano de 2024 foi o mais quente já registado e é possível que tenha sido o ano mais fresco do resto das nossas vidas”, diz o OPSA, lembrando depois que no ano passado as alterações climáticas acrescentaram, em média, 41 dias adicionais de calor perigoso, que ameaçaram a saúde das pessoas. Em Portugal foram 20 dias.

As alterações climáticas também exacerbam as catástrofes ambientais, como os incêndios. Em Portugal, entre 2011 e 2023 ardeu um terço do território do continente, 2.948.578 hectares.

O OPSA lembra também no relatório que as alterações climáticas são causadas pelas emissões de gases com efeito de estufa, que duplicaram nos últimos 50 anos, e pela desflorestação, que reduz a captura de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. “Em 2023, foram desflorestados no mundo 37.000 quilómetros quadrados, o equivalente a 10 campos de futebol por minuto”.

Sobre a degradação dos ecossistemas e poluição, o relatório nota que tem havido um aumento, que 75% da superfície terrestre sem gelo já terá sido “significativamente alterada”, e que tenham sido perdidos mais de 85% das zonas húmidas.

No mundo, afirma também, nove em cada dez pessoas respiram ar com níveis elevados de poluentes, excedendo os limites das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A quantidade de plástico já produzida ultrapassa uma tonelada por habitante do planeta, com as consequências conhecidas, e em mais de 20% dos rios e lagos da Europa foram detetados níveis preocupantes de pesticidas, além de que cerca de 21% dos carcinógenos associados ao cancro da mama foram encontrados em materiais que estão em contacto com os alimentos.

Em Portugal, o tráfego rodoviário tem aumentado nas principais cidades e o ruído associado continua a ser uma preocupação, à qual se junta a ruído resultante do aumento dos voos no país.

Neste cenário descrito no relatório junta-se a aceleração da perda de biodiversidade. “Nos últimos 50 anos, registou-se uma diminuição média de 73% nas populações de animais selvagens. São extintas por dia cerca de 150 espécies e um milhão de espécies estão em risco de extinção”.

E a seca global afeta atualmente cerca de 55 milhões de pessoas e poderá impactar mais de 75% da população mundial até 2050. Portugal é dos países mais vulneráveis.

Ainda de acordo com o documento, Portugal tem registado avanços e recuos na evolução das determinantes ambientais da saúde, cuja monitorização em todo o país “é ainda muito escassa”.

NR/lusa/HN

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