Relatório da OCDE sobre serviços de saúde reflete ineficiência do SNS – Ordem

20 de Fevereiro 2025

A Ordem dos Médicos considerou hoje que o relatório da OCDE sobre o uso dos serviços de saúde “reflete alguma ineficiência” na gestão do Serviço Nacional de Saúde (SNS), alertando que Portugal ficou para atrás.

“O exemplo que o relatório dá é que muitos países que têm um nível de financiamento baixo (…) têm resultados em saúde que são substancialmente superiores àquilo que temos em Portugal. Dá-nos a ideia de que a gestão que é feita no SNS não é eficiente”, disse hoje à Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos (OM).

Carlos Cortes comentava os dados do estudo Patient Reported Indicators Surveys (PaRIS) – o maior inquérito internacional aplicado a utilizadores de serviços de saúde – hoje apresentado em Lisboa e que em Portugal envolveu mais de 12.000 pessoas e 91 centros de saúde.

“Este relatório da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] é uma espécie de lufada de ar fresco, porque vem demonstrar quem é que utiliza o sistema de saúde. O que entendo é que Portugal tem de ter indicadores muito precisos para poder avaliar permanentemente a reforma das unidades locais de saúde (ULS) e o plano estratégico, porque muitas vezes implementam-se uma série de medidas e depois não são avaliadas”, referiu.

Para o bastonário da OM, a grande falha que o SNS tem é não poder avaliar as políticas que são implementadas.

“As ULS foram implementadas há sensivelmente um ano e nós não temos nenhuma avaliação sobre se a saúde das pessoas melhorou ou não”, observou.

O estudo da OCDE, que envolveu 19 países, incluindo Portugal, alertou para a urgência de adaptar os sistemas de saúde às necessidades da população e diz que nem sempre é preciso grande investimento financeiro para ter bons resultados.

De acordo com Carlos Cortes, Portugal precisa de desenvolver métodos de literacia em saúde, com mais tecnologia e uso da Inteligência Artificial (IA).

“Para os doentes poderem fazer uma autogestão dos seus cuidados, tem de haver mais literacia saúde, para que as pessoas com doenças menos graves não tenham de recorrer ao SNS, mas possam acompanhar a sua doença. Até no caso dos doentes crónicos, acompanhar a sua doença e tomar as melhores opções”, salientou.

Mais de metade dos 100.000 utentes com 45 anos ou mais que recorreram aos cuidados primários nos seis meses anteriores ao inquérito tinham pelo menos duas doenças crónicas, segundo o documento da OCDE.

“Comparando com a média da OCDE, percebemos que Portugal tem dificuldades e tem de mudar o acompanhamento dos doentes com doença crónica”, vincou Carlos Cortes.

Os dados do estudo indicam que menos de metade (49%) das pessoas com doenças crónicas em Portugal dizem haver boa coordenação de cuidados, um valor inferior à média da OCDE (59%) e 32 pontos percentuais abaixo do país com melhor desempenho (81%).

“Portugal tem de fazer um esforço muito grande de adaptação àquelas que são as novas exigências da nossa sociedade, uma população muito mais envelhecida e muito mais propensa a ter doenças crónicas. As pessoas vivem mais tempo. É um dado transversal a todos os países da OCDE, que desde os anos de 1970 regista um crescimento da esperança de vida”, indicou.

À Lusa, o responsável considerou ainda que Portugal “não soube acompanhar as mudanças sociológicas e tecnológicas” no SNS e que o Governo tem de “apostar na promoção da saúde”.

“Portugal ficou 40/50 anos atrás em termos de pensamento sobre a saúde, porque tem desvalorizado os parâmetros da prevenção da saúde (…). É absolutamente essencial haver aqui uma espécie de consenso político”, alertou.

Para o bastonário, Portugal praticamente duplicou o seu orçamento para a saúde nestes últimos anos, mas o SNS “não melhorou a sua prestação”.

NR/HN/Lusa

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