Cérebro em desenvolvimento capaz de reajustar funções quando falta parte do corpo

7 de Março 2025

O cérebro, quando está em desenvolvimento, é capaz de reajustar as suas estruturas e funções quando uma parte do corpo está em falta desde o nascimento, de acordo com um estudo.

Uma equipa internacional de investigadores tem vindo a testar como o cérebro reorganiza os seus mapas sensoriais na ausência de estímulos táteis, noticiou na quinta-feira a agência Efe.

Os resultados do trabalho, publicados na revista Nature Communications, podem ajudar a compreender melhor como é que o cérebro de uma pessoa que nasce sem uma parte do corpo reorganiza estas funções sensoriais e a perceber como podem ser feitas intervenções no futuro para melhorar a reabilitação em casos de malformações congénitas ou perda sensorial precoce.

Uma equipa de investigação do Instituto de Neurociências (IN) – um centro conjunto do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) de Espanha e da Universidade Miguel Hernández (UMH) em Elche – descobriu que o cérebro em desenvolvimento é capaz de reorganizar os seus mapas sensoriais quando o sentido do tato é afetado.

O laboratório liderado pela investigadora Guillermina López Bendito descobriu que o córtex somatossensorial, a parte do cérebro que nos permite sentir o mundo à nossa volta, pode modificar a sua estrutura e funcionalidade em resposta à ausência de estímulos desde o nascimento, referiu o CSIC, em comunicado.

O estudo, que contou com a colaboração de investigadores do Instituto Friedrich Miescher de Investigação Biomédica, na Suíça, foi realizado com recurso a um modelo de um rato que nasceu sem os bigodes principais, que são tão cruciais para eles como as mãos para os humanos, explicou a investigadora Mar Aníbal Martínez, primeira autora do artigo.

Observaram que, na ausência dos bigodes principais, a região do cérebro que normalmente processa esta informação desaparece quase por completo e a região dos bigodes do lábio superior, que são mais pequenos, mais numerosos e têm funções secundárias no processamento tátil, expande-se para ocupar o seu território, um processo que ocorre apenas se a perda sensorial ocorrer antes do nascimento.

Através de técnicas de análise genética e bioinformática, a equipa do laboratório de Desenvolvimento, Plasticidade e Reprogramação de Circuitos Sensoriais do IN descobriu que a região do tálamo que processa a informação dos bigodes labiais adota um perfil genético semelhante ao dos bigodes principais quando estes estão ausentes, permitindo a reorganização cortical.

Além das mudanças estruturais, a reorganização tem também um impacto funcional, observaram os investigadores.

A descoberta foi confirmada por experiências comportamentais em ratinhos adultos que perderam os bigodes principais antes do nascimento e foram capazes de diferenciar entre superfícies ásperas e lisas usando apenas os bigodes labiais.

Além disso, o trabalho mostrou que a reorganização dos mapas sensoriais não depende da atividade neuronal no tálamo, mas sim de alterações no seu perfil genético.

“O tálamo tem sido tradicionalmente visto como um simples retransmissor de informação entre a periferia e o córtex, mas o nosso trabalho mostra que desempenha um papel instrutivo na organização dos mapas sensoriais”, sublinhou Guillermina López Bendito.

O seu laboratório revelou que o tálamo não só transmite informação, como atua como um centro de integração sensorial para onde convergem todos os sentidos, exceto o olfato, o que reforça o seu papel na plasticidade cerebral e na reorganização da informação tátil.

lusa/HN

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