Deputados, profissionais de saúde e munícipes com reservas sobre fecho de hospitais da Colina de Santana

14 de Março 2025

Vários deputados e munícipes manifestaram reservas sobre o encerramento dos vários hospitais da Colina de Santana, em Lisboa, no que foram apoiados pelas profissionais de saúde convidadas para uma sessão realizada hoje pela Assembleia Municipal de Lisboa.

O debate “A Colina de Santana” teve a sua segunda sessão, dedicada à saúde (a primeira versou sobre o tema do imobiliário).

Em causa está, sobretudo, o encerramento dos hospitais da Unidade Local de Saúde São José (Santa Marta, Capuchos, São Lázaro, Curry Cabral, Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa), que serão integrados no novo Hospital de Todos-os-Santos, em Marvila, que deverá entrar em funcionamento em 2027.

“O encerramento traz consigo desafios”, realçou Dora Franco, do Conselho Diretivo Regional Sul da Ordem dos Enfermeiros, concretizando que “a centralização de serviços num único hospital, fora de Lisboa [centro da cidade], implica uma reflexão séria sobre as acessibilidades”.

Além disso, recordou, o Hospital de Todos-os-Santos tem previstas 849 camas (que poderão chegar às 1.065 em contingência), o que é “insuficiente”, já que existem 1.500 na atual Unidade Local de Saúde São José, o que exige uma aposta paralela e simultânea nos cuidados de proximidade e primários.

A enfermeira manifestou igualmente preocupação com o futuro dos “mais de dez mil profissionais de saúde” que trabalham nas várias unidades.

Reconhecendo que “a fragmentação atual não é eficiente”, a profissional de saúde sublinhou também que será necessário “um processo de aculturação” das várias unidades.

Aberto à intervenção do público, os munícipes alertaram para a necessidade de acautelar o acesso aos cuidados de saúde, que serão transferidos para um local que não é de fácil acesso, nomeadamente por parte da população mais idosa, bem como o futuro dos trabalhadores das várias instituições.

Alguns dos deputados que intervieram na sessão recordaram que estes debates são uma sequela de discussões que se realizaram há mais de dez anos (2013 e 2014), altura em que as várias unidades de saúde da Colina de Santana passaram para a gestão da empresa pública Estamo.

O deputado municipal Fernando Correia (PCP) defendeu a reversão da venda à Estamo, assinalando que “os hospitais desde então pagam renda pelas suas próprias instalações”.

Para os comunistas, está em curso “uma monumental operação de especulação imobiliária”.

Pelo Chega – que propôs a realização do debate “A Colina de Santana” –, o deputado Bruno Mascarenhas Garcia partilhou das preocupações de convidados, nomeadamente a de salvaguardar o acesso aos cuidados de saúde, ainda que concordando com a economia de escala proposta com a centralização no Hospital de Todos-os-Santos.

Já a IL instou a autarquia a, “enquanto não fecham os hospitais, melhorar os arruamentos de acesso” às unidades da Unidade Local de Saúde São José.

“As ruas não estão em condições”, considerou o deputado Miguel Ferreira da Silva, sublinhando, porém, que “há mais hospitais na Colina de Santana do que na maioria das regiões do país”.

Presente na sessão, a vereadora com a área da Saúde, Sofia Athayde, não avançou com detalhes sobre a transferência das unidades da Unidade Local de Saúde São José para o Hospital de Todos-os-Santos, optando por listar os vários projetos do atual executivo da Câmara Municipal de Lisboa na área da saúde – 15 novas unidade de saúde, dez já construídas, três em obra e duas em fase de projeto –, num investimento de 44 milhões de investimento.

Convidados para a sessão, não compareceram os representantes do Ministério da Saúde e da Ordem dos Médicos.

Em 06 de novembro do ano passado, a Câmara de Lisboa aprovou a emissão de parecer prévio favorável ao projeto de construção do Hospital de Todos-os-Santos.

A proposta foi aprovada com os votos a favor da coligação “Novos Tempos” (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), PS, PCP, Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre) e Livre, e a abstenção do BE.

A HLO Sociedade Gestora do Edifício, SA, entidade gestora pelo prazo de 30 anos em regime de parceria público-privada, vai construir um complexo hospitalar composto por três edifícios, todos com estacionamento.

lusa/HN

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