Antiviral oral previne morte pelo vírus Ébola em macacos infetados

15 de Março 2025

Macacos infetados com o vírus Ébola foram tratados com um medicamento antiviral administrado por via oral, um avanço que pode abrir caminho para tratamentos mais práticos e acessíveis aos humanos, segundo um novo estudo norte-americano publicado na sexta-feira.

Identificada pela primeira vez em 1976 e que se pensa ser originária dos morcegos, esta doença, muitas vezes fatal, é transmitida por fluidos corporais, com sintomas principais que incluem febre, vómitos, hemorragias e diarreia.

Em 2019, a OMS pré-qualificou a vacina Ervebo, que não é eficaz contra todas as estirpes.

Existem dois tratamentos com anticorpos intravenosos, mas continuam a ser caros e difíceis de administrar, sobretudo nas regiões mais pobres do mundo.

Combinando todas as estirpes, o vírus causou mais de 15.000 mortes em África desde 1976.

Atualmente, não existe vacina contra o Ébola-Sudão, a estirpe responsável por um surto no Uganda desde o final de janeiro.

“Tentámos realmente encontrar algo mais prático, mais fácil de utilizar, que pudesse ajudar a prevenir, controlar e conter as epidemias”, frisou à agência France-Presse (AFP) Thomas Geisbert, virologista da University of Texas Medical Branch que liderou o novo estudo publicado na revista Science Advances.

Thomas Geisbert e os seus colegas testaram o antiviral obeldesivir, a forma oral do remdesivir intravenoso, um medicamento utilizado principalmente contra a covid-19.

A equipa infetou duas espécies de macacos com uma dose elevada de Makona, uma variante do Ébola-Zaire, uma das estirpes que causaram uma grande epidemia.

O obeldesivir curou 100% dos macacos rhesus, a espécie biologicamente mais próxima dos humanos.

O medicamento também desencadeou uma resposta imunitária, ajudando-os a desenvolver anticorpos.

Embora a experiência tenha sido baseada num número relativamente pequeno de macacos, o estudo continua a ser significativo, disse Geisbert, referindo que os macacos foram expostos a uma dose extraordinariamente elevada do vírus.

Segundo o investigador, um dos aspetos mais interessantes do obeldesivir é o “espetro alargado” que oferece em comparação com os tratamentos baseados em anticorpos que apenas funcionam contra o Ébola-Zaire.

A fabricante farmacêutica norte-americana Gilead está atualmente a testar o obeldesivir para o vírus Marburg, que pertence à mesma família do ébola.

Mas Thomas Geisbert alerta contra os drásticos cortes orçamentais planeados pela administração de Donald Trump, sublinhando que os tratamentos e vacinas desenvolvidos contra o Ébola e outros vírus dependem 90% do financiamento público.

lusa/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Erica Nishimura: Desvendando novos horizontes na terapia da diabetes

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, a Professora Erica Nishimura (na imagem), vice-presidente científica para a área da Diabetes, Obesidade e MASH (acumulação de gordura no fígado) no Departamento de Investigação e Desenvolvimento Precoce na Novo Nordisk, partilha insights sobre os avanços revolucionários no tratamento da diabetes. Desde análogos de insulina sensíveis à glucose até terapias semanais, Nishimura revela como estas inovações estão a transformar a gestão da doença

Descoberta pioneira: diterpenos promovem regeneração neuronal funcional

Investigadores das universidades de Sevilha e Cádiz descobriram que os diterpenos regeneram neurónios funcionais após lesões cerebrais em ratos. Publicado na Stem Cell Research & Therapy, o estudo mostra que estes novos neurónios repovoam áreas danificadas, integrando-se nos circuitos neuronais e restabelecendo funções perdidas

Nanotubos de carbono revolucionam monitorização contínua da saúde

Investigadores da Universidade de Turku, Finlândia, desenvolveram um método inovador para produzir sensores ultrassensíveis a partir de nanotubos de carbono, capazes de detetar concentrações mínimas de substâncias como hormonas femininas, abrindo caminho para avanços na monitorização contínua da saúde.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights