Vacinas contra vírus que provoca bronquiolites tiraram bebés dos cuidados intensivos

31 de Março 2025

A vacinação que arrancou em outubro do ano passado contra o virus sincicial respiratório, que provoca bronquiolites em bebés e crianças, teve um impacto positivo na gravidade das infeções e nos internamentos, sobretudo em cuidados intensivos.

Em declarações à agência Lusa a propósito da campanha de vacinação, que hoje termina, os diretores de serviço de Pediatria dos hospitais Dona Estefânia e Santa Maria, em Lisboa, confirmam uma diferença “muito marcada”, com menos dois terços dos casos (Estefânia) e os internamentos em cuidados intensivos a passarem de uma média de 40 para cinco bebés (Santa Maria).

O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é uma causa muito comum de infeção em idade pediátrica – sobretudo bronquiolites – e é responsável por epidemias anuais sazonais que representam uma sobrecarga para os serviços de saúde.

No ano passado, a Direção-Geral da Saúde definiu uma estratégia de imunização e tornou gratuita a vacina para as crianças nascidas entre 1 de agosto de 2024 e 31 de março de 2025, entre outros casos específicos.

O diretor do Serviço de Pediatria Médica do Hospital de Santa Maria, Francisco Abecassis, contou à Lusa que, com esta imunização, a diferença foi “abissal” e que a doença, em cuidados intensivos, “praticamente desapareceu”.

“Em 2022/ 2023 tivemos 37 bronquiolites nos cuidados intensivos. Em 23/24 tivemos 30. A média anda entre os 30 e os 40. Nesta época tivemos cinco”, contou o especialista, explicando que, desses cinco, só três foram por VSR e todos em crianças não vacinadas ou mais crescidas.

“Foi uma doença que nós deixámos de ter em cuidados intensivos e, seguramente, graças a esta estratégia”, acrescentou.

O responsável ressalvou que houve crianças internadas por bronquiolite na enfermaria de pneumologia pediátrica, mas também aí os números baixaram.

Segundo contou, um estudo feito pela equipa de pneumologia pediátrica, que comparou o período de outubro a dezembro nos últimos quatro anos, vai na mesma direção. “Eram entre 60 e 100, nesta época, e este ano foram 48”, explicou Francisco Abecassis, adiantando que “a grande diferença é que a idade mediana das crianças internadas era cerca de dois meses e meio e, este ano, foi de nove meses”.

E não tem dúvidas de que estes números são efeito da vacinação: “O pequeno lactante com bronquiolite, ou mesmo recém-nascido, praticamente deixou de haver. O que mostra que foi pela estratégia de imunização, e não por outro motivo, porque continuou a haver VSR, mas em crianças mais crescidas”.

Também no Hospital Dona Estefânia a vacinação acabou por ter reflexos positivos. A média de internamentos não baixou muito, mas, segundo o diretor do Serviço de Pediatria, Luis Varandas, o perfil das crianças internadas alterou-se.

“Em 2023/24 tínhamos cerca de 70% dos internamentos por VSR em crianças com menos de seis meses e, depois, tínhamos uma faixa mais pequena – dos seis aos 11 meses e acima dos 12 meses. Agora tivemos cerca de 45% abaixo dos seis meses”, contou o especialista, explicando que, destes, “65 % deviam ter sido imunizados e não foram”.

A este nível, ambos os especialistas apontam algumas falhas no arranque da campanha de imunização, que era para ter começado a 01 de outubro e arrancou apenas a 15 e “não chegou à mesma velocidade a todo lado e ao mesmo tempo”.

Quanto à procura das urgências, diz que houve uma “franca diminuição”, mas que não pode atribuir diretamente à imunização, pois não se faz a pesquisa do VSR em todas as crianças, apenas aos casos mais graves.

Contudo, os dados de laboratório disponíveis relativamente às crianças testadas revelam uma redução de dois terços.

Questionados sobre se faria sentido alargar a idade da imunização, o responsável de Santa Maria diz que seria preciso um estudo para apurar o custo/benefício, tendo em conta o preço elevado do anticorpo monoclonal que é administrado.

O diretor da Pediatria da Estefânia concorda que é preciso avaliar a relação custo-benefício, mas lembra que desde sempre defendeu a vacinação mais alargada.

“É provável que aplicar só a partir de crianças com três meses,(…) seja mais custo-efetivo, porque o público-alvo pode ser mais preciso e gasta-se menos dinheiro. Mas a verdade, como vimos, é que fica muita gente fora desta imunização”, afirmou Luis Varandas, que sublinha o aspeto da equidade: “Porque é que alguém que nasce a 01 de agosto tem direito de ser imunizado e quem nasceu a 31 de julho não?”.

lusa/HN

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