Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, defende que o próximo Governo deve apostar na valorização dos recursos humanos, na reforma da gestão do SNS e na centralidade da pessoa nos cuidados de saúde. Propõe políticas de retenção de médicos, autonomia de gestão e humanização transversal do sistema.

Carlos Cortes: Prioridades da Ordem dos Médicos para o XXV Governo

05/04/2025

Saúde: uma prioridade estrutural e ética 
As eleições legislativas representam uma oportunidade para recentrar a saúde como prioridade nacional. Na verdade, o tema nunca saiu do discurso público e político. O Serviço Nacional de Saúde não pode continuar a ser gerido por ciclos curtos, medidas avulsas e respostas tardias. A sua reconstrução exige visão, coragem e responsabilidade. Há três eixos centrais, entre vários outros, que devem merecer atenção imediata.

  1. Recursos humanos em rotura.
    Sem médicos, não há cuidados de saúde. A falta de profissionais, a desvalorização da carreira médica, a ausência de condições dignas de trabalho e a estagnação nas progressões têm provocado um preocupante abandono do SNS. A emigração e o afastamento para o setor privado são sinais de alerta. Valorizar quem cuida é garantir acesso, continuidade e qualidade no sistema público. Isso exige políticas claras de retenção, dignificação da carreira médica, respeito pela autonomia profissional e pelo ato médico.
  2. Reorganização do SNS e da sua gestão.
    O modelo atual está esgotado. A reforma da governação do SNS é inadiável: deve ser técnica, transparente e centrada em resultados. A autonomia de gestão, a responsabilização, a liderança clínica e a desburocratização são essenciais. É tempo de um sistema que respeite o conhecimento, valorize o mérito e promova uma verdadeira cultura de serviço público, com estabilidade e visão de longo prazo.
  3. A centralidade da pessoa.
    A humanização é um fator essencial de desenvolvimento de qualquer sistema de saúde. A saúde não pode ser apenas um processo administrativo. Exige ética, atenção, respeito, literacia e acesso digno. A independência técnica dos médicos e o seu próprio bem-estar são pilares essenciais para um cuidado responsável e não podem ser comprometidos por lógicas políticas ou economicistas. A humanização dos cuidados tem de ser mais do que um princípio, tem de ser uma prática transversal a todo o sistema.
    A tutela tem a obrigação de garantir os meios e o ambiente certos para cuidar com qualidade, ciência e humanidade. É tempo de um novo compromisso com a saúde: estrutural, ético e duradouro.

 

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