Sem resposta eficaz à covid-19 na fase de desconfinamento recuperação económica é mais lenta – OM

6 de Julho 2020

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, defendeu hoje que enquanto faltar uma "resposta suficientemente eficaz" à covid-19 na fase de desconfinamento a recuperação económica também será mais lenta.

O responsável falava aos jornalistas depois de uma reunião do Fórum Médico de Saúde Pública com o Presidente da República, por videoconferência a Belém, que contou, além de Miguel Guimarães, com o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, e Luís Cadinha, do Conselho Nacional da Federação Nacional dos Médicos.

No final da reunião, também por videoconferência, o bastonário salientou aos jornalistas que enquanto Portugal não resolver a forma de sustentar os problemas de saúde relacionados com a nova pandemia a economia vai recuperar de forma lenta, já que o país depende muito do turismo.

Miguel Guimarães lembrou o caso do Reino Unido, que excluiu Portugal dos corredores aéreos devido às taxas de infeção por covid-19, e disse que ainda que não concorde com a decisão a verdade é que as pessoas se baseiam nos números, Portugal ainda não deu uma resposta eficaz e precisa de mais meios e de mais capacidade e de antecipar medidas.

“Nós não estamos a dar a resposta suficientemente eficaz nesta fase de desconfinamento, porque não antecipamos medidas, porque não tivemos um planeamento adequado, porque não reforçamos os recursos humanos, porque não antecipamos os meios técnicos que nos permitiriam chegar mais longe com mais rapidez, porque não testamos o que devíamos estar a testar nesta fase, porque o isolamento dos doentes demora tempo, porque o rastreamento tem também falhado”, afirmou o bastonário.

E avisou: “É evidente que este prolongar tem custos para a economia, e tem custos que podem ser brutais”.

Miguel Guimarães considerou ainda “fundamental” que os políticos percebam que enquanto a fase de desconfinamento, em termos do número de pessoas infetadas, não estiver devidamente controlada, não se pode dizer que está tudo bem, “porque não está” e os efeitos negativos na economia vão continuar.

Em Portugal, morreram 1.620 pessoas das 44.129 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde. Só hoje, em relação a domingo, Portugal tem mais seis mortes e mais 232 casos de infeções pela covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus descoberto no final do ano passado na China.

Os responsáveis do Fórum Médico (que foi criado antes da pandemia, por ser importante reforçar a saúde pública, disse o bastonário) disseram que o Presidente da República fez o que a ministra da Saúde ainda não fez, que foi recebe-los, e salientaram junto de Marcelo Rebelo de Sousa que é essencial ouvir os médicos que estão no terreno, sejam médicos e família, de saúde pública, da medicina do trabalho e os hospitalares.

E lembraram o papel dos médicos de saúde pública, cujo trabalho muitas vezes é quase invisível, mas que é essencial na luta contra a covid-19.

Ricardo Mexia, presidente da ANMSP, disse que o Fórum realçou junto do Presidente da República a necessidade “de uma reforma da saúde pública”, para a qual houve uma proposta de lei na legislatura anterior e que nunca avançou.

Ricardo Mexia lamentou, nas declarações aos jornalistas, que a saúde pública não tenha um sistema de informação, quando são os médicos de saúde pública que fazem o diagnóstico da situação das comunidades e identificam possíveis problemas.

Mas lamentou também a falta de recursos humanos e de equipamentos, e alertou para a necessidade de se planear o inverno, tendo em conta a covid-19 e também os recorrentes casos de gripe.

Luis Cadinha e Jorge Roque da Cunha centraram-se nas suas declarações aos jornalistas na falta de meios técnicos e humanos e nas condições de trabalho dos médicos de saúde púbica, transformado em “trabalho escravo”, sem pagamentos de horas extra e sem descanso, sem contar com os riscos até físicos no âmbito do trabalho de autoridade de saúde (quando as pessoas não querem acatar as indicações das autoridades de saúde), disse Luis Cadinha.

Numa resposta a perguntas dos jornalistas o bastonário da Ordem dos Médicos alertou também para a necessidade de serem reforçados os serviços e recursos para fazer face a outras doenças que não a covid-19, que ficaram sem atenção devido à pandemia.

Nos números de Miguel Guimarães só nos hospitais ficaram por realizar nos meses de março, abril e maio mais de 900 mil consultas e nos mesmos meses foram feitas menos quase 100 mil cirurgias em relação a igual período do ano passado.

LUSA/HN

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