Em resposta às queixas sobre o atraso das consultas, tratamentos e cirurgias manifestadas por Associações de Doentes e profissionais de saúde, a Convenção Nacional de Saúde propõe a criação de um “programa excecional de recuperação” dos cuidados de saúde. O objetivo é garantir que todos os doentes têm acesso à saúde mesmo durante a pandemia.
De acordo com a organização, depois de uma reunião com a Comissão Organizadora da Convenção Nacional da Saúde (CNS), a “conclusão a que se chegou e o apelo urgente que se faz ao Ministério da Saúde é que seja imediatamente planeado e lançado um programa excecional de recuperação das listas de espera geradas pela Covid-19”.
É por isso que a CNS considera apesar da prioridade dos sistemas de saúde estar focada combate a pandemia, “não se pode ignorar o impacto tremendo que esta situação gerou em toda a atividade assistencial”. De acordo com as estatísticas partilhadas publicamente pelo Ministério da Saúde, este ano e até maio, os hospitais do SNS realizaram menos 85 mil cirurgias e menos 902 mil consultas, das quais 371 mil eram primeiras consultas. No caso dos cuidados de saúde primários terão ficado por efetuar 3 milhões de consultas. Com a nova suspensão imposta na região de Lisboa e Vale do Tejo em junho estes números terão aumentado de forma significativa.
“As Associações de Doentes têm vindo a manifestar a sua preocupação com as lacunas. Nestes meses terão ficado por diagnosticar cerca de 20 mil casos de diabetes em Portugal. Só na área do cancro digestivo, refere-se que foram adiadas 51 mil cirurgias e canceladas 540 mil consultas, devido ao funcionamento das instituições nesta fase da pandemia. Segundo informações recentes, em maio o número de cirurgias caiu 42% no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, 31% no IPO do Porto e 25% no IPO de Coimbra”, garante a CNS.
Do ponto de vista dos profissionais de saúde, todos estes atrasos “colocam fortemente em risco a saúde de milhares de cidadãos, nomeadamente na área oncológica. Neste período terão ficado por diagnosticar e, como tal, estarão sem o devido acompanhamento mais de 15 mil tumores malignos.
De forma a “aumentar o acesso a todos os cuidados de saúde” e garantir que nenhum doente é esquecido, o programa surge como resposta para os atrasos nas cirurgias, consultas e exames complementares de diagnóstico e terapêutica.
A CNS alerta ainda para a “urgência de outras decisões na atual conjuntura de dificuldade do acompanhamento” dos doentes não-covid. Entre as decisões inclui-se o desenvolvimento de Vias Verdes, “promovendo uma melhor articulação entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares”; a expansão da hospitalização domiciliária, da telemedicina e da medicina à distância na monitorização e seguimento de Doentes crónicos e a garantia de proximidade na dispensa de medicamentos.
Já as Associações de Doentes que integram o CNS consideram necessário que seja garantida a comunicação entre o doente e o profissional de saúde por canais alternativos ao presencial (e-mail ou telefone direto); o registo “normalizado, interoperável e seguro de dados clínicos da gestão em saúde, incorporando Patient Report Outcome Measures (PROMs), permitindo uma maior eficiência do tempo de consulta e da relação médico-doente, uma maior humanização dos cuidados de saúde, a proteção da privacidade do indivíduo” e a promoção da saúde mental dos doentes mais vulneráveis, “promovendo a diminuição do impacto na saúde dos indivíduos com origem no isolamento forçado que vivemos nos tempos da pandemia, na crise económica e social que se avizinha, e da ansiedade gerada pela possibilidade de uma segunda vaga da pandemia provocada pelo Covid-19”.
A Convenção Nacional da Saúde afirma que apoia as preocupações das diversas Associações de Doentes e faz apelo urgente ao Ministério da Saúde para o programa excecional de recuperação das listas de espera e prepara um evento sobre a monitorização da atividade assistencial para setembro.
PR/HN/Vaishaly Camões
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