Psicólogos do INEM e da Urgência do S. João com ‘via verde’ na troca de informação

8 de Março 2022

O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) e o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) assinaram hoje um protocolo que visa agilizar e melhorar a passagem de testemunho entre equipas de Psicologia na admissão do doente no hospital.

Em causa podem estar situações de sofrimento, surpresa ou influenciadas por condições de crise, razão pela qual os psicólogos do INEM e os do Serviço de Urgência do CHUSJ passam a ter ‘via verde’ na transmissão de informação.

“Esta necessidade está há muito identificada. Efetivamente existe uma lacuna. Não é garantida a continuidade. Almejamos que este [protocolo hoje assinado entre o INEM e o CHUSJ] seja o primeiro de muitos idênticos. Estamos a colocar as pessoas no centro da equação”, afirmou Sónia Cunha, do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM.

Em declarações aos jornalistas, a psicóloga explicava que, na prática, o que acontece agora é que a informação que as equipas que estão no terreno têm é passada de forma “informal”, quando “se pretende que seja garantida a articulação entre os psicólogos que estão na rua e os que estão na Urgência”.

Já o diretor do Serviço de Psicologia do CHUSJ, Eduardo Carqueja, falou da necessidade de antecipar cenários e de encaminhar doentes que eventualmente necessitem de um contínuo de cuidados na área da Psicologia.

“Desta forma, todas as vezes que é necessária a colaboração de um psicólogo do hospital somos contactados antecipadamente por colegas do INEM. Assim, as pessoas são efetivamente acolhidas, não são só atendidas. São tratadas pelo próprio nome quando chegam à entrada do Serviço de Urgência”, referiu.

A título de exemplo, Eduardo Carqueja lembrou que transmitir o contexto daquela deslocação ao hospital ou a idade dos pacientes, entre outros aspetos, de psicólogo para psicólogo pode ter benefícios no cuidado a prestar.

“Saber que aconteceu um incêndio ou que a pessoa vive em condições muito degradadas é importante”, disse.

Este protocolo surge um ano depois do CHUSJ ter alocado psicólogos às equipas do Serviço de Urgência de Adultos e depois do mesmo modelo ter sido implementado em setembro na Urgência Pediátrica.

Dados dispensados à agência Lusa pelo CHUSJ apontam que, ao longo dos 12 meses de 2021, a equipa que engloba 25 psicólogos prestou assistência a mais de 150 pessoas que deram entrada no Serviço de Urgência.

Já na Urgência de Pediatria e na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos foram identificadas 25 ocorrências.

Além dos benefícios para o tratamento “adequado e imediato” do doente, Eduardo Carqueja sublinhou a importância da presença de psicólogos junto de familiares e de profissionais de saúde, lembrando que “a transmissão de notícias é algo muito impactante” e “tem de ser dado espaço ao médico, ao enfermeiro ou ao assistente operacional para trabalhar as emoções”.

O protocolo hoje assinado – pelos presidentes do CHUSJ e do INEM, Fernando Araújo e Luís Meira, respetivamente – inclui cooperação nos domínios clínico, da formação, investigação e intervenção na área da Psicologia Clínica.

Para o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do CHUSJ, Nelson Pereira, “este é um passo muito importante” para o atendimento imediato na admissão de doentes, mas também para o futuro desta área.

O médico destacou o contínuo de cuidados pré-hospitalares e intra-hospitalares e a referenciação de pessoas identificadas como a necessitar de cuidados psicológicos como mais-valias, mas somou o crescimento da Psicologia de Urgência, que “assim começa a ser possível através de colaboração e estágios”.

“As situações de catástrofe que agora vivemos também exigem uma colaboração conjunta nesta área”, acrescentou, referindo-se à pandemia da covid-19, bem como à guerra que opõe a Ucrânia à Rússia.

Nelson Pereira afirmou que “a figura do psicólogo é muito importante no Serviço de Urgência porque todos os dias se lida com situações limite como a morte e a perda”, e que “os doentes estão vulneráveis e toda a ajuda que lhe é dada é muito valorizada”.

LUSA/HN

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