“Estas vacinas vão proporcionar outra escolha, especialmente para as pessoas, que por várias razões receiam as vacinas baseadas em material genético. Havendo escolha entre estes três tipos de vacinas, talvez o número de vacinados seja superior no futuro”, afirmou Mário Monteiro.
O professor de Química da Universidade de Guelph, que cresceu na Serra da Estrela, em Aldeias, Gouveia, no distrito da Guarda, mas vive no Canadá desde 1981, explicou que estas vacinas devem estar brevemente disponíveis no mercado, quer no Canadá, quer na Europa.
“Estas vacinas são diferentes das utilizadas hoje em dia, baseadas em material genético, que instruem as nossas células a gerar a tão famosa glicoproteína ‘spike’. Uma é composta por essa própria proteína, mas gerada no laboratório e semelhante a outras vacinas à base de proteínas já existentes contra outras doenças e bem estudadas, e outro tipo de vacina é baseada no vírus inativo ou morto, outra tecnologia bem entendida, e semelhante às de proteína que não entram nas nossas células”, explicou.
No entanto, Mário Monteiro reconheceu ser “sempre bom questionar qualquer medicamento”, particularmente quando chega ao mercado.
“Penso que o termo ‘negacionista’ é às vezes mal utilizado e interpretado. Observando bem, muitos peritos, eu incluído, temos questões que devem ser continuamente estudadas. A rapidez não é boa amiga da ciência, mas neste caso, o desenvolvimento de vacinas ARN (mRNA, sigla em inglês) foi necessário e benéfico, pois vivíamos em tempos de guerra contra o micróbio. Mas é sempre mais eficaz educar do que forçar”, sublinhou.
Em Portugal encontram-se aprovadas pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) cinco vacinas de proteção à infeção por SARS-CoV-2.
As vacinas foram baseadas em tecnologias diferentes, em vetor viral (Janssen e AstraZeneca) e em RNA (Moderna e BioNTech/Pfizer).
Mais recentemente foi aprovada no final de 2021, uma nova vacina da norte-americana Novavax denominada por Nuvaxovid, baseada na proteína ‘spike’.
No Canadá, além destas vacinas, também a agência de medicamentos aprovou, em 24 de fevereiro, a primeira vacina contra a covid-19 gerada em plantas, que é baseada também na proteína ‘spike’, a Covifenz, da biofarmacêutica Medicago, sediada no Quebeque.
Em 2014, Mário Monteiro foi distinguido pela organização britânica vaccinations.org em colaboração com a World Vaccine Congress, como uma das 50 pessoas mais influentes em termos globais na área das vacinas, numa lista liderada por Bill Gates.
Mário Monteiro tem desenvolvido com a sua equipa da Universidade de Guelph várias vacinas à base de carboidratos, particularmente contra bactérias gastrointestinais.
Recentemente viu aprovada para a segunda fase em ensaios humanos a sua vacina contra a ‘Campylobacter jejuni’, uma das principais bactérias que causa doenças intestinais transmitidas por alimentos em termos globais.
Em 2016, foi vencedor do Prémio Inovação, atribuído pela Universidade de Guelph pelo seu contributo no desenvolvimento de uma vacina contra a bactéria intestinal ‘Clostridium difficile’. Esta bactéria (‘C. difficile’) “é uma das mais perigosas das que se podem encontrar nos hospitais”, nota o luso-canadiano.
Quando o processo de produção de uma vacina pode levar décadas, o investigador explicou que, no caso das vacinas contra a covid-19 baseadas em ARN, “basta conhecer o genoma completo do vírus” e “os instrumentos literalmente compõem a sequência genética”.
“O maior desafio era encontrar mecanismos de introduzir o material genético nas células – um problema que foi resolvido durante os últimos anos. Mas o mais importante foram as infraestruturas e os apoios monetários disponíveis pelas farmacêuticas, governos e também devido à aprovação rápida pelas agências de saúde”, frisou.
Mário Monteiro é um dos poucos investigadores de açúcares complexos, existentes nas superfícies das bactérias.
A covid-19 provocou pelo menos 6.011.769 mortos em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo um balanço da agência France-Presse.
A doença é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.
A variante Ómicron, que se dissemina e sofre mutações rapidamente, tornou-se dominante no mundo desde que foi detetada pela primeira vez, em novembro, na África do Sul.
LUSA/HN
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