Ministra britânica pede soluções a quem critica acordo com Ruanda

18 de Abril 2022

A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, pediu hoje soluções àqueles que criticam o seu plano de enviar requerentes de asilo para o Ruanda como forma de dissuadir a imigração e combater o tráfico de pessoas.

Num artigo publicado no diário The Times, a ministra e o seu homólogo ruandês, Vincent Biruta, dizem que os dois países estão a dar “passos audazes e inovadores” e consideram que “surpreende que as instituições que criticam os planos não apresentem soluções”.

O arcebispo da Cantuária e líder da Igreja anglicana, Justin Welby, disse no seu sermão do domingo de Pascoa que o programa “não passaria no juízo de Deus” por “subcontratar” as responsabilidades do Estado britânico ao estrangeiro.

Numerosos políticos e mais de 160 organizações humanitárias condenaram também o novo sistema de asilo, desenhado pelo Governo para “recuperar o controlo das fronteiras” após o ‘Brexit’.

No seu artigo, Patel e Biruta escrevem que “a aplicação bem-sucedida” do acordo que assinaram na quinta-feira em Kigali “requererá um esforço concertado”.

Permitir que continue “o sofrimento” das vítimas de traficantes que fazem viagens perigosas para encontrar refúgio “já não é opção para nenhuma nação humanitária”, afirmam.

“Foi por isso que o Reino Unido e o Ruanda iniciaram uma inovadora associação de longo prazo que estabelecerá um novo padrão internacional”, porque “interromperá o modelo de negócio dos grupos de crime organizado e dissuadirá os migrantes de pôr em risco as suas vidas”, defendem.

Acrescentam que o envio para o Ruanda das pessoas chegadas ao Reino Unido por via ilegal “garantirá que os que realmente precisam de proteção estejam seguros e protegidos num país de acolhimento reconhecido mundialmente pelo seu historial de receção e integração de migrantes”.

“O Reino Unido e o Ruanda uniram-se nos seus esforços para promover um sistema de asilo global novo, mais justo e mais eficaz, que dissuada a criminalidade, a exploração e o abuso”, argumentam os dois governantes, recordando que “a migração ilegal é um problema global” que exige soluções.

O plano do Governo britânico passa por reenviar homens solteiros que chegam ao Reino Unido provenientes do outro lado do Canal da Mancha em pequenas embarcações, fazendo-os voar 6.400 quilómetros até ao Ruanda, enquanto os seus pedidos de asilo são processados.

No âmbito do acordo, inspirado nos que se aplicam na Austrália e em Israel, Londres financiará inicialmente o dispositivo no valor de 120 milhões de libras (144 milhões de euros) e o Governo ruandês esclareceu que ofereceria a possibilidade aos migrantes “de se estabelecerem permanentemente no país, se assim o desejarem”.

A iniciativa foi criticada pelas Nações Unidas, através do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que expressou, no dia do anúncio, a sua “forte oposição” ao plano britânico.

“Pessoas que fogem de guerras, conflitos e perseguições merecem compaixão e empatia. Elas não devem ser comercializadas como mercadorias e levadas para o exterior para tratamento”, disse então Gillian Triggs, alta-comissária adjunta do ACNUR, responsável pela proteção internacional.

Mais de 160 organizações não-governamentais classificaram a medida como “cruel e mesquinha”, tendo sido também criticada por alguns deputados conservadores, enquanto o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, a apelidou de “impraticável” e com custos “exorbitantes”.

Os migrantes há muito que chegam ao Reino Unido através do norte de França, seja escondidos em camiões ou em ferries, ou – cada vez mais desde que a pandemia de covid-19 fechou outras rotas em 2020 – em jangadas e pequenas embarcações, em travessias organizados por traficantes.

Mais de 28.000 pessoas entraram no Reino Unido em pequenas embarcações no ano passado, contra 8.500 em 2020 e apenas 300 em 2018. O registo de mortes não tem parado de aumentar.

Os governos britânico e francês trabalharam durante anos para impedir as viagens através do Canal, sem grande sucesso, trocando frequentemente acusações sobre quem é o culpado do fracasso.

LUSA/HN

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