Em África, onde ocorreram mais de 95% das 627 mil mortes globais por paludismo (ou malária) em 2020, a doença é endémica, principalmente nas áreas rurais, através da espécie de mosquito ‘Anopheles gambiae’, dominante no continente.
No entanto, outra espécie, ‘Anopheles stephensi’, há muito o principal transmissor do paludismo nas cidades da Índia e do Irão, tem sido detetada em África desde 2012, causando surtos em Djibuti e na Etiópia.
Ao contrário do ‘Anopheles gambiae’, o mosquito asiático pode se reproduzir em reservatórios de água urbanos e, portanto, multiplicar-se durante as estações secas, sendo também resistente a inseticidas comuns.
Se o ‘Anopheles stephensi’ se espalhasse por todo o continente africano, mais de 126 milhões de pessoas em 44 cidades estariam em risco de contrair paludismo, de acordo com um modelo científico de 2020.
O Djibuti foi o primeiro país africano a detetar o ‘Anopheles stephensi’, em 2012, quando estava prestes a erradicar o paludismo, com apenas 27 casos naquele ano.
Os casos de paludismo dispararam naquela país, desde a chegada do novo transmissor, com cerca de 73 mil infeções registadas em 2020, referiu a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um surto de paludismo na vizinha Etiópia foi causado pela mesma espécie de mosquito, indicou um estudo apresentado, na terça-feira, na reunião anual da Sociedade de Medicina Tropical e Higiene dos Estados Unidos.
Em Dire Dawa, a segunda maior cidade da Etiópia, foram registados entre janeiro e maio – a estação seca, quando o paludismo é tradicionalmente raro – mais de 2.400 casos, quando em todo o ano de 2019 a cidade tinha tido apenas 205 casos.
“Os mosquitos ‘Anopheles stephensi’ são responsáveis pelo aumento da contaminação”, disse Fitsum Girma Tadesse, biólogo molecular do instituto de pesquisa Armauer Hansen, com sede em Adis Abeba.
O Sudão também parece estar a ser afetado, já que de acordo com dados preliminares apresentados na reunião, o ‘Anopheles stephensi’ foi identificado em 64% dos 60 locais de teste, espalhados por nove regiões.
“Em alguns casos, até 94% das famílias têm mosquitos ‘stephensi’” nas proximidades, disse Hmooda Kafy, entomologista médico e chefe do departamento de gestão de vetores do Ministério da Saúde do Sudão, num comunicado.
O Instituto de Pesquisa Médica da Nigéria tinha confirmado em julho, pela primeira vez, a presença do ‘Anopheles stephensi’ na África Ocidental.
O mosquito teria sido detetado ainda na Somália, segundo a OMS, que lançou, em setembro, uma iniciativa para conter a disseminação da espécie em África.
A ameaça do ‘Anopheles stephensi’ em África já não é potencial, mas comprovada, disse Sarah Zohdy, especialista em ecologia de doenças do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos.
LUSA/HN
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