Em declarações à Lusa após a conferência de imprensa dos bispos sobre as medidas de resposta ao relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, Francisco Miranda Rodrigues reconheceu a importância do apoio psicológico e psiquiátrico às vítimas anunciado pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o bispo José Ornelas, mas avisou que pode não chegar a ser uma solução.
“É muito difícil percebermos como é que se consegue, sequer, sentir minimamente, dar algum significado e ultrapassar este tipo de situações, pelo que devemos entender como aceitável que, para as vítimas, aquilo que possam encontrar de resposta ao que foi o sofrimento que lhes foi infligido seja difícil de ser suficiente para fazer face à perda. Em algumas dimensões é já muito dificilmente reparável”, referiu.
Segundo Francisco Miranda Rodrigues, a capacidade para ajudar algumas das vítimas é demasiado limitada perante o trauma dos abusos sofridos no passado. “São precisas mais do que medidas simbólicas”, assinalou o bastonário, assegurando que a Ordem “nunca foi contactada pela Igreja” sobre este tema e que o mais importante é garantir às vítimas a liberdade de escolha relativamente ao apoio psicológico desejado.
“Devemos aceitar que é difícil que a apresentação desta ou daquela medida – e algumas são medidas simbólicas – possa, por si só, ter um impacto generalizado para a maior parte das vítimas e poder com isso fazê-las, de alguma forma, sentir que o seu sofrimento fica mitigado ou que está a ser feito algum tipo de justiça ou reconhecimento proporcional àquilo que sentiram”, acrescentou Francisco Miranda Rodrigues.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.
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