Reeleição de Trump posta em causa devido aos efeitos da pandemia na economia

28 de Setembro 2020

A pandemia de Covid-19 veio trocar as voltas aos estrategas da campanha de reeleição de Donald Trump, que viram os seus trunfos políticos serem engolidos pela crise sanitária, obrigando a colocar o Presidente à defesa.

Há um ano, Donald Trump elogiava o comportamento da economia norte-americana e das bolsas de valores, indicando-os como barómetros do sucesso do seu mandato presidencial e tudo indicava que esse seria o tema forte da sua recandidatura.

Nos primeiros comícios de preparação da campanha para a sua reeleição, Trump justificava os resultados económicos com a sua estratégia de colocar a “América em primeiro lugar”, um dos ‘slogans’ da sua candidatura de 2016, que aparecia então revestido de uma aura de comprovação no terreno político.

Contudo, com os primeiros casos de contaminação com o novo coronavírus nos EUA, no início deste ano, o cenário político alterou-se radicalmente: a crise sanitária provocou uma depressão económica de dimensões astronómicas, que obrigou a pacotes de ajuda financeira superiores a dois biliões de euros e que destruiu qualquer ambição de Trump de chegar às eleições de 03 de novembro com o trunfo da Economia na mão.

Pelo contrário, a crise sanitária levou a um aumento brutal do desemprego, com a oposição democrata a criticar o Governo federal por falta de resposta coordenada à pandemia e ao afundar da economia.

Ao mesmo tempo, a morte de George Floyd, um afro-americano que foi sufocado até à morte quando estava sob custódia policial, reacendeu o tema do racismo sistémico, com manifestações de protesto que tomaram conta das ruas de diversas cidades norte-americanas, provocando cenas de confronto e de vandalismo.

Donald Trump percebeu de imediato a oportunidade de um tema político, face a estes episódios de violência, ordenando o envio da Guarda Nacional para cidades e estados dirigidos por políticos do Partido Democrata, acusando-os de não saberem proteger a segurança dos cidadãos.

“Lei e ordem” passaram a ser palavras de ordem nos comícios de reeleição do Presidente, que chegou a dizer que o seu adversário, Joe Biden, estava motivado a descredibilizar a polícia e até a retirar fundos para o funcionamento das esquadras, o que o democrata de pronto negou, ajudando a transformar a polémica em tema de campanha.

Tal como tinha feito com o tema dos imigrantes ilegais, na campanha de 2016, Trump acenou com os fantasmas do caos e da desordem, aparecendo como o líder capaz de conter a violência nas ruas, explorando o medo dos eleitores, dizendo que Biden nunca conseguiria controlar a situação.

“O Presidente sabe que as eleições presidenciais são sempre uma de duas coisas: ou um balanço do mandato anterior ou uma comparação com o adversário. E Trump precisa de se comparar com Biden, perante uma fraca avaliação que os eleitores fazem da sua presidência”, explicou à Lusa Robert Bird, professor de Ciência Política da Universidade de Ohio.

Nuno Gouveia, especialista em política norte-americana e autor de obras sobre as eleições nos EUA, chama a atenção para o facto de as manifestações anti-racismo serem um bom pretexto para desviar as atenções dos eleitores da má gestão da pandemia de Covid-19, mostrando o lado securitário do Presidente.

“Os protestos certamente serviram para mobilizar multidões anti-Trump. Mas com o avolumar de protestos violentos em diversas cidades, Trump pode até retirar dividendos na popularidade”, disse à Lusa Nuno Gouveia.

“Os políticos democratas perceberam que os protestos violentos favorecem Trump e a sua mensagem divisiva, pelo que rapidamente surgiram a condenar os ‘antifa’ e a violência que irrompeu nas ruas das principais cidades americana. Eric Garcetti, ‘mayor’ de Los Angeles disse mesmo que o que estava a acontecer não eram protestos, mas apenas violência”, explica Gouveia.

Perante este cenário político, “Biden precisa de ser mais agressivo com Trump e responder-lhe de forma mais incisiva, até para galvanizar a sua base eleitoral e não deixar o palco mediático apenas para o atual Presidente”, conclui o especialista em política norte-americana.

Robert Bird compara a situação da violência nas ruas com a dos incêndios que este verão dizimaram os estados de Oregon e da Califórnia, acusando Biden de não ter sabido tirar proveito da impotência do Governo federal para lidar com esta tragédia.

“Biden parece estar à espera de que os eleitores tirem as suas próprias conclusões. Mas os eleitores precisam de ser guiados nestas leituras políticas e os democratas estão adormecidos”, critica Bird, alegando que Trump não se viu forçado a dar muitas explicações.

Contudo, diz Bird, este pode ainda ser um tema forte, nomeadamente nos debates televisivos, em que Joe Biden precisará de colocar o Presidente na defensiva e em que a pandemia e os incêndios podem causar fortes embaraços ao candidato republicano, impedindo que gaste o seu tempo nos ataques ao adversário.

LUSA/HN

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