Metade dos angolanos com VIH abandonam tratamentos por dificuldades económicas

23 de Maio 2024

Cerca de 340 mil pessoas estão infetadas com HIV em Angola, sobretudo mulheres, estimando-se que a taxa de abandono dos tratamentos devido aos problemas socioeconómicos ultrapassa os 52%, segundo a Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida (ANASO).

Os dados constam dum relatório sobre a situação da Sida em Angola, a que a Lusa teve acesso, segundo o qual o VIH/Sida (Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) no país africano atinge 2% da população, com aumento do número de novos casos e de mortes.

“Apesar da baixa prevalência, o país tem dificuldades em dar resposta à epidemia e a situação é preocupante e pode evoluir para uma situação alarmante, se não forem tomadas medidas urgentes”, avisa a ANASO.

A ANASO, que integra mais de 300 organizações da sociedade civil, refere que o rápido crescimento populacional indica que o número de pessoas que vivem com VIH/SIDA tem vindo a aumentar, estimando que existam atualmente 340 mil pessoas infetadas, das quais 190 mil são mulheres e 35 mil são crianças.

Cerca de 34 mil jovens vivem com o VIH, dos quais 73% são meninas e raparigas entre os 15 e os 24 anos, acrescenta.

A ANASO salienta que muitas pessoas estão a abandonar o tratamento antirretroviral “por causa da fome e de outras dificuldades sociais”, já que muitos dos infetados são pessoas de baixos rendimentos.

“A taxa de abandono é superior a 52%”, refere, salientando ainda que um grande número de pessoas com Tuberculose vive com o VIH.

Outros dados indicam que a taxa da coinfeção VIH/Tuberculose é superior a 50% e que a taxa de transmissão de mãe para filho em Angola é das mais altas da região (16%).

Em termos geográficos, as províncias do sul e do leste apresentam as taxas mais altas de infeção (5%), estando o número de novas infeções por VIH a aumentar (25 mil/ano) e o número de mortes relacionadas com a Sida também (13 mil/ano).

De acordo com dados da ONUSIDA, citados no relatório, apenas 58% das pessoas que vivem com o VIH conhecem o seu estado serológico e apenas 49% dos infetados estão em tratamento antirretroviral.

A ANASO refere que a resposta nacional à epidemia da Sida tem sido essencialmente medicalizada, assente no tratamento da população que vive com a doença e defende o desenvolvimento de um Roteiro Nacional de Prevenção.

“O país tem de melhorar a liderança política e a coordenação das ações e isto passa por definir os papéis e responsabilidades da Comissão Nacional de Luta contra a Sida e Grandes Endemias e do Instituto Nacional de Luta contra a Sida”, defende.

Para a ANASO, a Comissão Nacional de Luta contra a Sida deve incluir os parceiros e a resposta comunitária deve ser liderada pelas organizações da sociedade civil e deve ser reforçada, o que implica financiamento que não existe atualmente.

A ANASO chama a atenção para a necessidade de melhorar os dados, que estão desatualizados, destacando que o último inquérito de indicadores múltiplos de saúde foi realizado em 2016.

Por outro lado, pede a melhoria da cadeia de abastecimento de produtos de saúde, “que está a comprometer os esforços na disponibilidade dos insumos e criar rutura de stock de antiretrovirais, reagentes, testes, preservativos e outros produtos de saúde”, e lamenta a falta de espaços formais de diálogo onde a sociedade civil possa discutir a questão dos fundos e financiamentos.

“Infelizmente, não temos representantes na Assembleia Nacional, no Conselho da República, na Comissão Económica e Social ou noutros espaços formais de diálogo, mas estamos a trabalhar para que o país aumente o financiamento interno, através de mecanismos de financiamento inovadores e de novas abordagens, com uma maior participação do setor privado”, indica no relatório.

Para a ANASO, é preciso reduzir a “dependência financeira a partir de organizações internacionais que sustentam mais de 80% das ações desenvolvidas pela Sociedade Civil e representam 40% das despesas da resposta nacional à epidemia”.

LUSA/HN

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