De acordo com o relatório anual sobre a economia brasileira, divulgado na segunda-feira, o FMI adiantou não prever uma recuperação do consumo até ao final do ano.
“Com a ajuda de emergência reduzida a metade nos últimos quatro meses do ano, espera-se que o consumo privado se recupere apenas modestamente”, devido aos efeitos da crise e à retirada do apoio fiscal, acrescentou.
Os pagamentos de ajuda de emergência cedida pelo Governo a milhões de famílias pobres do Brasil devem terminar no final deste ano, gerando debates políticos, incerteza fiscal e volatilidade no mercado financeiro nas últimas semanas.
Antes da pandemia, que fez mais de 146 mil mortos e quase cinco milhões de infetados no Brasil, a organização tinha elogiado as políticas do Governo brasileiro e considerado que a economia estava em condições de “recuperar em 2020”.
No entanto, o FMI advertiu que “se as condições de saúde, económicas e sociais ficarem piores do que o esperado, as autoridades devem estar preparadas para fornecer apoio fiscal adicional”.
A atividade económica brasileira contraiu 7% no primeiro semestre de 2020, a maior diminuição em 30 anos, e perdeu quase 12 milhões de postos de trabalho entre fevereiro e julho, mais de metade no setor informal, de acordo com o FMI.
O relatório frisou que alguns indicadores recentes são encorajadores, mas levar emprego, rendimentos e pobreza aos níveis pré-pandemia pode ser demorado.
Em agosto, os depósitos a prazo das famílias brasileiras aumentaram mais de 60% em relação ao ano anterior, enquanto que a diminuição das importações se devem traduzir num ligeiro superávite em conta corrente de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, à medida que se recupera a procura externa.
O FMI alertou para a grande incerteza sobre a evolução da pandemia e apontou que o fim do apoio fiscal no final do ano irá resultar numa pressão acrescida.
A organização instou o executivo brasileiro a “implementar rapidamente reformas estruturais que garantam a consolidação a médio prazo” para mitigar “o risco de uma dinâmica da dívida indesejável”.
“Qualquer gasto adicional pode minar a confiança do mercado e aumentar as taxas de juros”, salientou.
A organização financeira projetou que, devido ao forte aumento do défice fiscal primário, a dívida pública bruta saltará para cerca de 100% do PIB este ano, e permanecerá alta a médio prazo.
O FMI referiu-se às preocupações dos mercados quanto à sustentabilidade fiscal brasileira, o que, assegurou, se vê refletida na forte curva de desempenho da moeda local (real).
Contudo, o FMI identificou como risco uma segunda vaga da pandemia, mas destacou as consideráveis reservas internacionais do país e o sistema bancário resiliente como pontos fortes, assim como uma baixa proporção da dívida pública, “o que proporciona uma almofada confortável contra choques externos”.
“Com a dívida pública a aumentar para 100% do PIB [Produto Interno Bruto], a preservação do teto de gastos constitucional como âncora fiscal é essencial para sustentar a confiança do mercado e conter o risco soberano”, disse o FMI, ao destacar a necessidade de consolidação fiscal para encerrar o défice primário e estabilizar a dívida pública.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de um milhão e trinta mil mortos e mais de 35,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
LUSA/HN
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