Médio Oriente: Médicos sem Fronteiras pedem acesso seguro a cuidados de saúde

31 de Julho 2024

A organização não-governamental Médicos sem Fronteiras (MSF) apelou hoje às partes em conflito na Faixa de Gaza que garantam o acesso seguro de doentes e feridos aos hospitais, frisando que julho tem sido um "mês horrível”.

“Os MSF apelam urgentemente a todas as partes em conflito para que garantam o acesso seguro da população aos cuidados médicos e evitem a evacuação do hospital Nasser [na cidade de Gaza], o que colocaria em risco centenas de pacientes”, lê-se num comunicado da organização humanitária, a que a agência Lusa teve acesso.

“Todos os dias de julho têm sido um choque atrás do outro”, afirmou Javid Abdelmoneim, chefe da equipa médica dos MSF, relatando que, a 24 deste mês, encontrou atrás de uma cortina no hospital Nasser uma menina de oito anos, sozinha e gravemente ferida, que acabaria por sucumbir aos ferimentos.

Para Abdelmoneim, trata-se do “reflexo de um sistema de saúde em colapso”.

“Uma menina de oito anos, morrendo sozinha num carrinho na sala de emergência. Num sistema de saúde a funcionar, ela teria sido salva”, lamentou.

No comunicado, os MSF defendem que o hospital Nasser tem de ser protegido, uma vez que os últimos hospitais principais do centro e do sul de Gaza estão a debater-se “com o mortífero mês de julho”.

Em Khan Younis, no sul de Gaza, os combates estão a aproximar-se cada vez mais do hospital Nasser, colocando-o sob ameaça e pondo em risco o acesso da população a cuidados médicos.

Isto acontece quando as equipas dos MSF nos hospitais Nasser e al-Aqsa responderam a 10 afluxos maciços de pessoas gravemente feridas só em julho, na sequência de bombardeamentos na área.

“Qualquer escalada dos combates perto do hospital obstruiria o acesso dos pacientes e da equipa médica, tornando impossível a prestação de cuidados”, diz Jacob Granger, coordenador do projeto dos MSF em Gaza.

“O sistema de saúde está completamente dizimado e evacuar centenas de pacientes e suprimentos médicos, apressadamente ou não, seria uma tarefa impossível e traria consequências devastadoras para as pessoas da região, que não têm para onde ir”, defendeu Granger, para quem fechar o hospital Nasser “não é uma opção.”

Segundo os MSF, o hospital Nasser está a prestar cuidados a cerca de 550 doentes, incluindo pessoas com queimaduras graves e traumatismos, recém-nascidos e mulheres grávidas.

Segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, os níveis de sangue no banco de sangue do hospital Nasser estão criticamente baixos, depois de cinco vagas sucessivas de pacientes recebidos, com cerca de 180 mortos e 600 feridos.

“Uma em cada dez pessoas que se ofereceram para doar sangue durante uma atividade de recolha apoiada pelos MSF não estava apta a doar devido a anemia ou desnutrição. No hospital de al-Aqsa, o serviço de urgência não tem podido funcionar corretamente, pois está sobrecarregado de doentes”, acrescenta-se no comunicado.

Antes da guerra, lembram os MSF, o hospital de al-Aqsa tinha cerca de 220 camas para doentes, número atualmente ultrapassado para níveis insustentáveis – entre 550 e 600 internados.

“O hospital de al-Aqsa já tem várias centenas de pacientes acima de sua capacidade de camas”, insistiu Alice Worsley, enfermeira gerente de atividades dos MSF, para quem a situação é “desesperada”.

“Mesmo a resposta mais dedicada nem sempre pode salvar vidas sem suprimentos, camas e equipas médica suficientes”, acrescentou Worsley.

Em 22 e 27 de julho, as forças israelitas emitiram duas ordens de evacuação em Khan Younis, o que resultou em mais uma deslocação em massa e reduziu ainda mais o espaço onde as pessoas podem ir.

Segundo o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), de 22 a 25 de julho, cerca de 190.000 palestinianos foram deslocados em Khan Younis e Deir al-Balah.

Desde o início da guerra, estima-se que 1,7 milhões de pessoas tenham sido aconselhadas a deslocar-se para uma área de 48 quilómetros quadrados (km²), o que representa 13% da Faixa de Gaza, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Embora as chamadas zonas humanitárias se tenham revelado inseguras em Gaza, a existência de tais zonas não retira às partes beligerantes a obrigação de proteger os civis – onde quer que se encontrem. Por quase 10 meses, nós vimos que nenhum lugar em Gaza é seguro”, sustentam os MSF.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Informação HealthNews: Ana Paula Martins será reconduzida no cargo

De acordo com diferentes fontes contactada pelo Healthnews, Ana Paula Martinis será reconduzida no cargo de Ministra da Saúde do XXV Governo constitucional, numa decisão que terá sido acolhida após discussão sobre se era comportável a manutenção da atual ministra no cargo, nos órgão internos da AD. Na corrida ao cargo, para além de Ana Paula Martins estava Ana Povo, atual Secretária de Estado da Saúde, que muitos consideravam ser a melhor opção de continuidade e Eurico Castro Alves, secretário de estado da Saúde do XX Governo Constitucional.

Auditorias da IGAS apontam fragilidades no combate à corrupção no SNS

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde realizou 14 auditorias a entidades do SNS desde 2023, que identificaram áreas críticas que exigem reforço nos mecanismos de controlo interno e prevenção da corrupção nas entidades auditadas, revela um relatório hoje divulgado

Programa Proinfância apoia mais de 1.200 crianças vulneráveis em Portugal

Desde o seu lançamento em Portugal, em 2021, o Programa Proinfância da Fundação ”la Caixa” tem acompanhado mais de 1.200 crianças e adolescentes, assim como mais de 800 famílias em situação de vulnerabilidade económica e risco de exclusão social em todo o território nacional. 

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights