Algoritmo permite prever com até 13 minutos de antecedência enfartes em doentes internados

19 de Novembro 2024

Um novo algoritmo de inteligência artificial (IA) consegue prever, com até 13 minutos de antecedência, a possibilidade de um doente internado sofrer um enfarte agudo do miocárdio, permitindo aos médicos atuar antes que o ataque cardíaco aconteça.

O sistema foi desenvolvido pelo Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, que criou os modelos de IA, e pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), que forneceu os dados clínicos que treinaram e testaram esses modelos.

Testado em doentes do Hospital de Santa Maria em condições reais de cuidados intensivos de cardiologia, o algoritmo permite uma “antecipação de forma significativa” da possibilidade de um enfarte agudo do miocárdio, ao analisar o risco de isquemia (diminuição do fluxo de sangue rico em oxigénio para o músculo cardíaco), adiantou à Lusa Miguel Sales Dias, investigador principal do projeto AIM Health.

Segundo referiu o investigador do Iscte, este novo algoritmo de IA foi desenvolvido e testado em conjunto com o cardiologista e professor da FMUL, Luís Rosário, e a sua equipa da unidade de cuidados intensivos de cardiologia do Hospital de Santa Maria, tendo os dados sido sujeitos às comissões de ética das duas instituições.

Na prática, são recolhidos e monitorizados uma série de dados fisiológicos de um doente e o algoritmo está a ser permanentemente invocado. Assim que deteta uma alteração relevante dos sinais fisiológicos, lança o alarme para o médico responsável, explicou Miguel Sales Dias.

“Já desenvolvemos um piloto, que teve bons resultados, e agora estamos a trabalhar para colocar o mesmo em funcionamento”, avançou o investigador do Iscte, ao adiantar que a intenção é expandir o sistema para outras unidades de cuidados intensivos de cardiologia.

Com o recurso à inteligência artificial nesta área, “já entramos no campo da previsão com alguma antecedência”, salientou.

“Até aqui, os doentes estão monitorizados e, quando as coisas acontecem, é que se atua”, disse à Lusa o cardiologista Luís Rosário, para quem o novo sistema de IA poderá levar a que, nessa área, se passe de uma atuação dos profissionais de saúde reativa para uma ação proativa.

Isso significa que “antes que tenha um enfarte, antes de o coração do doente estar a sofrer e ser lesado, nós podemos vir a começar a terapêutica ou a corrigir os danos que levam a isso”, realçou o professor da FMUL.

O especialista referiu ainda que os resultados, que serão apresentados na quarta-feira na conferência “Novas Fronteiras na Saúde” dedicada aos desafios das políticas públicas na era digital, em Lisboa, são “muito promissores”, mas agora é necessário melhorar a fiabilidade do sistema para que tenha impacto clínico.

Além da capacidade de prever isquemias iminentes, o projeto AIM Health desenvolveu uma segunda ferramenta avançada: um sistema computacional que utiliza tecnologias de visão por computador e IA para auxiliar os médicos de cardiologia no diagnóstico de problemas de calcificação na válvula aórtica.

Este sistema identifica automaticamente a válvula em exames de ressonância magnética e ecocardiografia, tendo a capacidade de distinguir os pacientes com a válvula calcificada dos pacientes saudáveis e, ainda, quantificar o cálcio presente.

“O conjunto de imagens que usamos para treinar o nosso algoritmo, se fossem observadas manualmente pelo clínico, ele demoraria 22 horas e assim é tempo real”, salientou Miguel Sales Dias.

Para Luís Rosário, a rapidez e precisão dessa tecnologia facilitam o diagnóstico precoce, essencial para planear tratamentos personalizados, mas também permitindo aos médicos ganhar tempo e focarem-se em tarefas clínicas mais complexas.

LUSA/HN

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