Caso gémeas: Pedido de marcação de consulta foi feito em nome de Lacerda Sales

3 de Dezembro 2024

A diretora do Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria afirmou hoje que o pedido de marcação de consulta para as gémeas luso-brasileiras, em 2019, foi feito em nome do ex-secretário de Estado Lacerda Sales.

“O início do meu envolvimento neste processo foi na sequência de um contacto com a secretária pessoal [Carla Silva] do secretário de Estado [Adjunto e da Saúde], que me contactou primeiro por telefone e depois por email, solicitando uma consulta de neuropediatria e de uma avaliação clínica para duas crianças”, disse Ana Isabel Lopes, após ser interpelada pelo deputado do Livre Paulo Muacho.

À comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas, a diretora clínica referiu que “a informação veiculada por Carla Silva foi que o fazia em nome do secretário de Estado” António Lacerda Sales, não tendo dúvidas da solicitação do ex-membro do Governo PS: “absolutamente, foi essa a minha interpretação”.

Todavia, Ana Isabel Lopes admitiu que “não foi feita qualquer menção” a Lacerda Sales e que não indagou se foi o ex-governante socialista que pediu a marcação da consulta: “Recebi um email que interpretei como institucional e parecia-me credível”.

“Foi absolutamente excecional. Em 40 anos de serviço nunca tinha tido uma solicitação desta natureza, considerei-a atípica”, esclareceu, dizendo que teve de contactar o seu superior hierárquico, Luís Pinheiro (ex-diretor clínico do Hospital de Santa Maria), devido à “grande vulnerabilidade” da situação das crianças, à “importância de dar resposta” e também por não se ter sentido confortável com a situação.

Ana Isabel Lopes disse ter enviado uma mensagem a Luís Pinheiro, mencionando uma solicitação de consultas para duas crianças, tendo de seguida reencaminhado a comunicação de Carla Silva.

“A orientação do diretor clínico foi no sentido de uma resposta positiva à solicitação, no sentido de autorização para agendamento da consulta”, sublinhou.

André Ventura, do Chega, solicitou que estas comunicações sejam enviadas à comissão de inquérito.

A médica disse ainda que não havia listas espera “pela natureza da patologia”.

“Não existe lista de espera. O tempo contava para dar resposta assistencial”, precisou.

Ana Isabel Lopes disse que nunca falou nem foi contactada por parte de qualquer membro do Governo ou da Presidência da República.

Em resposta ao PSD, a diretora indicou que o tratamento das duas crianças luso-brasileiras com um dos medicamentos mais caros do mundo foi validado pelo Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria.

“Todo o processo de colocação da indicação, aprovação e validação passou pelo Conselho de Administração, o processo institucional assim o impõe”, afirmou.

A responsável indicou que o custo deste tratamento é suportado pelo Ministério da Saúde e que o custo do Zolgensma “reduziu significativamente” após a renegociação com o Infarmed, sendo agora de 1,2 milhões de euros, quando na altura em que as gémeas receberam o tratamento, em 2020, ascendia a dois milhões.

A diretora de Pediatria do Santa Maria disse também que na altura não ouviu referências às crianças serem tratadas como “as meninas do Presidente” naquela instituição hospitalar e considerou “muito pouco edificante esse tipo de comentários”.

Questionada pelo PS, Ana Isabel Lopes classificou o trabalho da neuropediatra que acompanhou as meninas, Teresa Moreno, como exemplar, e garantiu que “nenhuma criança ficou por tratar”, indicando que “não havia lista de espera”.

Ana Isabel Lopes recusou que tenha existido algum tipo de imposição no que toca às decisões clínicas e também que tenha insistido com Teresa Moreno para que fosse marcada a primeira consulta das gémeas, dizendo não ver “pertinência ou necessidade” para tal.

A responsável disse igualmente à deputada da IL Joana Cordeiro que, “em momento algum”, Teresa Moreno manifestou “discordância em relação à marcação das consultas” ou ao tratamento, que foi prescrito pela própria.

Ao Chega, a diretora de Pediatria confirmou o que tinha sido dito momentos antes, na audição da neuropediatra Ana Sofia Moreira Sá, de que as crianças não passaram por um processo de triagem antes da marcação da primeira consulta.

LUSA/HN

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