Dança e ciência para combater esclerose múltipla na Escócia

1 de Março 2025

Com uma das taxas mais elevadas de esclerose múltipla (EM) do mundo, a Escócia está a explorar abordagens inovadoras para melhorar a qualidade de vida dos doentes, desde a dança adaptada à medicina personalizada.

O mais recente estudo da MS Society, uma instituição de investigação médica do Reino Unido, revela que a prevalência da esclerose múltipla na Escócia aumentou 10% desde 2019, enquanto no Reino Unido há mais de 150 mil pessoas com a doença, especificando que 73% das pessoas afetadas na Escócia são mulheres e que o diagnóstico é mais comum entre os 30 e os 40 anos.

Embora a esclerose múltipla continue a não ter cura e afete a mobilidade, a cognição e a fadiga dos seus doentes, a ciência e a arte procuram atenuar os seus efeitos.

Elevate, um programa de dança adaptada desenvolvido em 2018 pela companhia Scottish Ballet, combina ballet, fisioterapia, música ao vivo e a vertente social para melhorar a mobilidade, a coordenação e o equilíbrio dos doentes, ao mesmo tempo que promove a ligação social e o bem-estar emocional.

A americana Emily Davis, antiga bailarina do Philadelphia Ballet, deixou o palco para investigar os efeitos do movimento nas doenças neurológicas e a forma como o Elevate beneficia as pessoas com esclerose múltipla.

“Vimos que a dança tem benefícios reais na mobilidade e na saúde mental, reduzindo a depressão e o isolamento”, disse Davis.

O programa oferece aulas presenciais em Glasgow e Perth, bem como sessões online. “Elevate foi concebido em colaboração com fisioterapeutas, neurologistas e pacientes, integrando exercícios específicos com a arte do ballet”, diz Bethany Whiteside, investigadora do Royal Conservatoire of Scotland.

Para Joanne Harrow, diagnosticada em 2021 e participante do Elevate, a dança mudou a forma como vive com a doença.

“Costumava ter dificuldade em manter o equilíbrio e tinha medo de me mexer. Agora sinto-me mais confiante e ligada a outras pessoas”, relata.

No entanto, o acesso a este tipo de terapia na Escócia não é fácil: “Não há muitas opções no NHS e a maioria das atividades benéficas requer pagamento”, confessou Evie Meldrum, a quem foi diagnosticada esclerose múltipla aos 16 anos.

O Centro de Investigação da Sociedade de Esclerose Múltipla da Universidade de Edimburgo, que se dedica à investigação clínica da esclerose múltipla, conta com 190 investigadores que estudam diferentes aspetos da doença.

“Até agora, os tratamentos têm-se concentrado na Esclerose Múltipla Remitente Recorrente, deixando muitas pessoas com formas progressivas sem opções”, disse à EFE a Professora Anna Williams, líder do grupo de investigação.

A sua equipa identificou subgrupos distintos de doentes com base na atividade molecular da doença, o que poderá permitir a personalização dos tratamentos. “O problema da esclerose múltipla é que não se deve a um único gene ou fator ambiental, mas a uma combinação de elementos”, diz Williams.

Os fatores genéticos, como a ascendência viking de muitos escoceses, e os fatores ambientais, como a falta de vitamina D, desempenham um papel importante na elevada prevalência da doença na Escócia.

 “Também sabemos que o vírus Epstein-Barr (que causa a mononucleose) está presente em 100% das pessoas com esclerose múltipla, embora a maioria da população também tenha sido exposta. É a interação de múltiplos fatores que torna a EM mais comum na Escócia”, explica Williams.

De acordo com o grupo de reflexão “Economist Impact”, a EM custou ao Reino Unido 2,78 mil milhões de libras (3,367 mil milhões de euros) em 2019 devido à perda de postos de trabalho e à necessidade de cuidados, indicando que um melhor acesso aos tratamentos poderia reduzir este custo em 17%.

Além disso, o “ensaio Octopus”, financiado pela MS Society, um ensaio clínico à escala do Reino Unido que espera ver os primeiros resultados em 2026, está a testar vários medicamentos para a EM progressiva com o objetivo de acelerar a procura de tratamentos.

Apesar dos avanços científicos e terapêuticos, os desafios mantêm-se: “Passámos de não ter qualquer tratamento para ter mais de 20 opções para a EM Remitente Recorrente. O desafio atual é conseguir avanços semelhantes para a EM progressiva. Não posso garantir uma cura, mas estamos a avançar na direção certa”, conclui Williams.

lusa/HN

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