Investigadores descobrem como círculos de ADN tornam cancro do pâncreas agressivo

12 de Março 2025

Uma equipa de investigadores descobriu como algumas células do cancro do pâncreas, um dos mais mortais, ganham uma grande vantagem de sobrevivência, o que poderá ter um potencial para tornar os tumores mais vulneráveis aos tratamentos.

O estudo conduzido por investigadores das universidades de Verona e de Glasgow e do Centro Botton-Champalimaud do Cancro Pancreático concluiu que algumas células do cancro do pâncreas “ganham uma grande vantagem de sobrevivência” ao transportarem cópias de genes essenciais do cancro em fragmentos circulares de ADN que existem fora dos cromossomas.

Conhecidos como ADNec, estes anéis genéticos flutuam livremente no núcleo da célula, permitindo que as células tumorais intensifiquem rapidamente a expressão dos genes do cancro, alterem a sua forma e sobrevivam em ambientes que de outra forma lhes seriam hostis.

Segundo a Fundação Champalimaud, o cancro do pâncreas é um dos mais mortais a nível mundial, com uma taxa de sobrevivência de 13% a cinco anos, um mau prognóstico que resulta da deteção tardia, mas também da capacidade para se adaptar e resistir aos tratamentos.

A investigação permitiu agora identificar o “motor oculto desta adaptabilidade”, o ADN extracromossómico.

“O cancro do pâncreas é frequentemente designado como um assassino silencioso porque é difícil de detetar até ser demasiado tarde”, salientou Peter Bailey, coautor do estudo e responsável pela investigação translacional no Centro Botton-Champalimaud do Cancro Pancreático.

De acordo com o investigador, parte dessa letalidade decorre da capacidade de as células tumorais mudarem de forma quando submetidas a stress, com a investigação agora conhecida a demonstrar que o ADNec “constitui uma parte importante dessa história”,

A fundação considerou ainda fundamental que este trabalho permitisse alargar a compreensão da plasticidade genómica, “desafiando a noção” de que o genoma é sempre “fixo”.

“Partimos do princípio de que veríamos sobretudo alterações epigenéticas, pelo que ver este nível de reengenharia genómica foi decididamente uma surpresa”, referiu Peter Bailey.

Tendo em conta a previsão de que os casos de cancro do pâncreas aumentarão nos próximos anos, a compreensão do papel do ADNec poderá servir para futuras estratégias para intercetar ou explorar esta característica genética, “potencialmente tornando os tumores mais vulneráveis aos tratamentos”, realçou ainda Fundação Champalimaud.

NR/HN/Lusa

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

João Paulo Magalhães: É preciso investir na Prevenção, Organização e Valorização dos Médicos de Saúde Pública

João Paulo Magalhães, Vice-Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, defende para o próximo Governo três prioridades essenciais para a Saúde Pública: reforço da promoção da saúde e prevenção da doença, modernização e clarificação da organização dos serviços de Saúde Pública, e valorização das condições de trabalho e carreira dos médicos de Saúde Pública

AICEP aprovou investimentos de 300 ME em quatro empresas

A Agência para o Comércio Externo de Portugal (AICEP) aprovou um pacote de investimento de mais de 300 milhões de euros, em quatro empresas, criando mais de 1.200 postos de trabalho, adiantou hoje o Governo.

Evoluir o SNS: Reflexão de Luís Filipe Pereira sobre o Futuro da Saúde em Portugal

Luís Filipe Pereira, ex-ministro da Saúde, analisa os desafios estruturais do SNS, destacando a ineficiência do Estado nas funções de prestador, financiador e empregador. Defende a transição para um Sistema de Saúde que integre prestadores públicos, privados e sociais, promovendo eficiência e liberdade de escolha para os utentes.

Doze medidas de Saúde para qualquer novo governo

O Professor António Correia de Campos, Catedrático Jubilado e antigo Ministro da Saúde, aponta doze medidas de Saúde para qualquer novo Governo. Nelas, defende que os programas políticos para as legislativas de 18 de maio devem priorizar a integração das várias redes do sistema de saúde, reforçando a articulação entre hospitais, cuidados primários, cuidados continuados e ERPI. Propõe ainda soluções transitórias para a falta de médicos e aposta na dedicação plena para profissionais do SNS

Eixos centrais para a transformação e sustentabilidade do SNS

Ana Escoval, Professora Catedrática Jubilada da ENSP (NOVA) e vogal da Direção da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, analisa as propostas dos partidos para as legislativas de 18 de maio, destacando a necessidade de inovação, integração de cuidados, racionalização de recursos e reforço da cooperação público-privada como eixos centrais para a transformação e sustentabilidade do SNS

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights