Análise a águas residuais europeias apontam aumento do uso de MDMA

19 de Março 2025

As deteções de drogas nas águas residuais na Europa apontam para um aumento dos consumos de cocaína, anfetaminas e sobretudo MDMA/ecstasy, com Lisboa como a cidade portuguesa em destaque, segundo um estudo hoje divulgado.

O relatório da Agência da União Europeia Sobre Drogas (EUDA) relativo a 2024, intitulado “Wastewater analysis and drugs — a European multi-city study”, registou um aumento das deteções de MDMA, cocaína e anfetamina em comparação com 2023 e uma diminuição dos vestígios de canábis nas águas residuais recolhidas pelas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de 128 cidades de 26 países (24 da UE + Turquia e Noruega), incluindo Lisboa, Porto e Almada.

O estudo analisou amostras diárias de águas residuais durante uma semana entre março e maio de 2024 de cerca de 68,8 milhões de pessoas para detetar vestígios de cinco drogas estimulantes ilícitas (anfetamina, cocaína, metanfetamina, MDMA/ecstasy e cetamina) e de canábis, a droga mais consumida em Portugal e na Europa.

Segundo o relatório da agência europeia sobre drogas sediada em Lisboa, as drogas ilícitas investigadas foram detetadas em quase todas as cidades participantes.

O relatório revela que em Portugal, juntamente com a Bélgica, Chéquia e Países Baixos foram encontradas “as maiores concentrações” de MDMA nas águas residuais, acrescentando que, das 76 cidades para as quais estão disponíveis dados relativos a 2023 e 2024, 41 delas comunicaram um aumento das deteções de MDMA, 24 uma redução (principalmente na Europa Central e na região do Báltico) e 11 uma situação estável.

Quanto à cocaína, o estudo aponta que os vestígios nas águas residuais continuam a ser mais elevados nas cidades da Europa Ocidental e do Sul (em especial na Bélgica, Países Baixos e Espanha), mas também foram detetados na maioria das cidades da Europa Oriental, onde continuam a ser observados alguns aumentos.

Das 72 cidades para as quais existiam dados, 39 comunicaram um aumento no ano passado em relação a 2023, 17 não comunicaram qualquer alteração e 16 uma diminuição.

A agência observa que o aumento das deteções de cocaína é uma tendência observada desde 2016 (apesar de alguma flutuação durante os confinamentos da covid-19), sendo que as cidades participantes do Brasil, Chile e Suíça apresentam níveis de consumo semelhantes aos das europeias com as cargas mais elevadas.

O nível de anfetamina foi mais elevado em cidades do Norte e Leste da Europa (Bélgica, Alemanha, Países Baixos, Suécia e Noruega), tendo sido “muito mais baixos” nas do Sul, embora os dados mais recentes mostrem alguns aumentos.

Das 68 cidades que dispuseram dados sobre resíduos de anfetamina para o mesmo período, 34 comunicaram um aumento, 14 uma diminuição e 20 uma situação estável.

As metanfetaminas, tradicionalmente concentrada em cidades da Chéquia e Eslováquia, está agora também presente em localidades da Bélgica, Croácia, Leste da Alemanha, Espanha, Países Baixos, Turquia e de vários países do norte da Europa (como Dinamarca, Lituânia, Finlândia e Noruega).

Das 71 cidades para as quais estão disponíveis dados relativos a 2023 e 2024, 32 comunicaram um aumento dos resíduos, 27 uma diminuição e 12 uma situação estável. Nas restantes cidades europeias, as cargas de metanfetamina eram baixas ou mesmo negligenciáveis, apesar de se terem registado alguns aumentos na Europa Central.

Os dados de 2024 comunicados por 82 cidades revelaram níveis relativamente baixos de resíduos de cetamina nas águas residuais municipais, sendo que das 42 que forneceram informações sobre os resíduos de cetamina para os dois últimos anos, 14 comunicaram um aumento, 15 uma situação estável e 13 uma diminuição.

De acordo com os dados sobre esta substância, as maiores concentrações foram observadas nas cidades da Bélgica, Países Baixos, Hungria e Noruega.

Relativamente à canábis, a droga mais consumida na Europa, a EUDA destaca que as cargas mais elevadas foram encontradas na Europa Ocidental e Sul, em especial na Espanha, Países Baixos, Noruega e Portugal.

Em 2024, adiantam os números, observaram-se tendências decrescentes, com 25 das 51 cidades a comunicarem uma diminuição e 13 a expressarem um aumento desde 2023.

A EUDA avança igualmente que foram detetadas cargas mais elevadas de cocaína em cidades de maior dimensão, enquanto no caso da metanfetamina e da MDMA não foram observadas diferenças acentuadas na comparação dos resultados de grandes e pequenas cidades, “o que sugere que, em alguns casos, os padrões ‘urbanos’ de consumo de droga podem estar a alastrar-se a cidades mais pequenas”.

A análise das águas residuais deteta flutuações nos padrões semanais de consumo de drogas ilícitas, já que mais de três quartos das cidades apresentaram níveis mais elevados de resíduos de droga (cocaína, cetamina e MDMA) associados ao consumo em contextos recreativos durante o fim de semana.

NR/HN/Lusa

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