“Não tenho o problema de assumir que gosto de abracinhos”

13 de Dezembro 2020

A candidata presidencial Marisa Matias critica Marcelo Rebelo de Sousa por deixar “seletivamente fechadas” algumas janelas de Belém, assumindo que na sua campanha vão faltar “uns abracinhos” devido à pandemia.

“É verdade que isto de não podermos dar abraços toca mais a uns e a umas do que a outros e eu não tenho nenhum problema em assumir que gosto bastante de uns abracinhos”, afirma, em tom bem-disposto, em entrevista à agência Lusa.

Para as presidenciais, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda fixa como uma boa meta “um melhor resultado” do que o alcançado nas últimas eleições, nas quais obteve o terceiro lugar e quase meio milhão de votos – a melhor marca de sempre de um candidato presidencial apoiado exclusivamente pelos bloquistas.

“Se eu me estou a recandidatar, para mim, um resultado bom seria ter um melhor resultado do que tive nas eleições anteriores (…) e acho que precisamos também, todos e todas, de nos mobilizar enquanto cidadãos e cidadãs politicamente ativos e dar uma lição às forças não democráticas”, assume a bloquista, em entrevista à agência Lusa.

Quando se candidatou às últimas presidenciais, então com Cavaco Silva como chefe de Estado, Marisa Matias defendia que “num Palácio de Belém que cheira a bafio” ia ser “preciso abrir as janelas para entrar ar fresco”.

“Eu acho que não podemos de maneira nenhuma comparar o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa com o de Cavaco Silva. Houve seguramente janelas que foram abertas. Agora também houve algumas que seletivamente ficaram fechadas”, afirma, quando questionada sobre esta sua declaração.

Evitando “grandes floreados”, a eurodeputada do BE não esconde que se parte para as eleições presidenciais com “um favorito à eleição”, que é Marcelo Rebelo de Sousa, contra quem se apresenta nestas eleições e faz questão de marcar as suas diferenças, desde a visão sobre a saúde, passando pelas questões laborais e do sistema financeiro e até à posição em relação à eutanásia.

“Creio que é um dos temas que realmente precisa de ser discutido e, portanto, o facto de ser muito discutido não me afeta, mas acho que há um momento em que temos de decidir e que já devíamos ter dado esse passo”, destaca, esperando que a lei da eutanásia, se for aprovada no parlamento, não seja bloqueada “em nenhuma das esferas do poder”.

Com a crise pandémica, na perspetiva de Marisa Matias, percebe-se “ainda mais aquilo que é a importância dos serviços públicos, em particular do Serviço Nacional de Saúde”, considerando que “falta uma voz de defesa clara e inequívoca do SNS”, tema em relação ao qual também se afasta do atual Presidente da República.

Numa coisa, porém, Marcelo e Marisa são parecidos: nos afetos, no contacto e na proximidade às pessoas, gestos que numa campanha marcada por uma crise sanitária terão de ser repensados.

Mas, segundo a candidata, com a seriedade a que a covid-19 obriga, é preciso “assumir as recomendações, ser intransigentes no cumprimento das normas sanitárias, o que faz da campanha uma campanha completamente diferente das anteriores”.

“O facto de haver distanciamento físico não é, de nenhuma forma nem pode ser, sinónimo de distanciamento social. Desse ponto de vista esta campanha, como todas as outras, têm e devem servir para ouvir pessoas, para ouvir os seus problemas, para trocar ideias, para percorrer o território, obviamente cumprindo todas as normas sanitárias”, antecipa.

Esta será a quarta vez que Marisa Matias irá protagonizar uma candidatura bloquista, tendo duas sido como cabeça de lista ao Parlamento Europeu (2014 e 2019) e a outra como candidata apoiada pelo BE às últimas presidenciais.

Marisa Isabel dos Santos Matias nasceu em Coimbra em 20 de fevereiro de 1976 e é socióloga.

Desde cedo que se envolveu em causas estudantis e cívicas, tendo sido mandatária nacional do “Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim”, aquando do referendo nacional pela despenalização do aborto em 2007. Em 2009, foi eleita pela primeira vez eurodeputada do BE.

LUSA/HN

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