Contrariando as indicações iniciais, o Hospital de Cantanhede, no distrito de Coimbra, não privou os seus doentes de contactos e de visitas das suas famílias, desenvolvendo um plano de ação que colocou o doente no centro das atenções.
Em declarações à agência Lusa, a presidente do conselho diretivo, Diana Vilela Breda, explicou que no início da pandemia aquela unidade hospitalar “percebeu que tinha de manter as visitas dos familiares e, ao mesmo tempo, garantir as condições de segurança, salvaguardando direitos essenciais e a qualidade de vida dos doentes”.
“Nesta fase, os doentes estavam ainda mais fragilizados e confusos e a família estava angustiada com o afastamento físico forçado, pelo que era mesmo muito importante manter o contacto”, salientou a administradora, referindo que o “princípio essencial foi precisamente a preservação da dignidade da pessoa doente e da sua família”.
Segundo Diana Breda, as visitas nas unidades de cuidados continuados e de paliativos “são essenciais para a própria melhoria da condição clínica do doente ou para dar bem-estar ao doente numa fase crítica da sua vida”, pelo que o Hospital de Cantanhede criou a figura do gestor do doente.
“Significa que o médico, assistente social, psicólogo ou enfermeiro desta equipa multidisciplinar manteve sempre a comunicação entre o doente e a sua rede social de apoio”, frisou a responsável.
O sistema informático criado para gerir os contactos e as visitas evita que existam visitas sobrepostas, com mais do que uma pessoa no hospital à mesma hora, e permite a “rastreabilidade dos contactos, se for necessário”.
Numa primeira fase, o Hospital de Cantanhede incentivou os familiares a visitas remotas, através de telemóveis e ‘tablets’, seguindo-se visitas com separação física, através das janelas ou com uma separação de vidro ou, já nesta fase, através de uma mesa, garantindo o afastamento social.
Os doentes em fase terminal puderam também receber junto a si a presença física de familiares, nos casos em que se “percebeu que não ia haver uma segunda hipótese de se despedirem”, enfatizou Diana Breda.
Esta abordagem pioneira em plena pandemia da Covid-19 foi distinguida pelo programa “Beyond the Call of Duty for Covid-19”, promovido pela Federação Internacional de Hospitais, depois de uma análise de uma comissão internacional constituída por 16 especialistas de saúde.
O Hospital de Cantanhede foi um dos 100 hospitais de 28 países galardoados por aquele programa de reconhecimento de respostas à pandemia da Covid-19, que distinguiu ainda mais 15 unidades hospitalares nacionais.
Possui unidades de convalescença, paliativos e ambulatório, com 48 camas, e cerca de 150 profissionais. O seu plano estratégico aposta numa lógica de proximidade, com “respostas adequadas às necessidades da população alvo, que é envelhecida e com um forte pendor do setor primário, com muitas necessidades de saúde”.
Para a presidente do conselho diretivo, a distinção da Federação Internacional de Hospitais representa uma “espécie de marco reputacional” e o reconhecimento do trabalho dos profissionais de saúde, que “não se limitaram a fazer aquilo que tinham de fazer e foram para lá daquilo que lhes era exigido neste trabalho com e para o doente”.
“Este trabalho que o Hospital de Cantanhede tem vindo a desenvolver contribuirá, certamente, para a construção de novos paradigmas e boas práticas a replicar e implementar de forma global e inclusiva”, acrescentou.
De acordo com Diana Vilela Breda, “talvez o mais interessante deste hospital seja a sua lógica puramente multidisciplinar, com o trabalho feito verdadeiramente em equipa, com reuniões diárias em que todos participam, nas quais a assistente social, o psicólogo, o enfermeiro, o médico e até as terapeutas discutem qual é a intervenção no doente e as medidas mais adequadas”.
“É esta proximidade da família que, infelizmente, ainda não é muito vulgar nos nossos hospitais”, realçou a administradora, que, no futuro, pensar criar espaços exteriores para estender os locais de visita, “para as pessoas estarem à vontade com a sua família”.
LUSA/HN
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