“O mais complexo e pior do ponto de vista da saúde pública é este ano a gripe sazonal ter aspetos de (maior) gravidade. Por as estirpes serem mais violentas, por haver taxas de vacinação inadequadas na população, nos grupos de maior risco, como as crianças, os idosos e as grávidas, (há mais perigo) de adoecerem com gravidade e mesmo de morrerem”, disse Francisco Antunes, que falava à Lusa a propósito do ‘webinar’ “Gripe e COVID-19: A tempestade perfeita?”.
Segundo o especialista, o ‘webinar’, promovido pelo Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (ISAMB/FMUL), que decorre hoje à tarde, pretende dar respostas a questões relacionadas com a gripe e com a Covid-19, numa altura do ano em que “circulam os vírus da gripe e a pandemia está na fase intensa e disseminada na comunidade”.
“Estamos em plena campanha de vacinação contra a gripe sazonal e teve início aos soluços o plano de vacinação contra a Covid-19″ disse Francisco Antunes, adiantando que neste contexto surgem questões como saber se a infeção pelo vírus da gripe agrava a evolução da Covid-19, saber se a vacinação contra a gripe pode proteger contra a Covid-19 e saber se as as medidas de mitigação que estão a ser usadas atualmente e que vão ser reforçadas para a Covid-19 podem reduzir o peso da gripe sazonal.
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) estimam que entre 28 de dezembro e 03 de janeiro a taxa de incidência de síndrome gripal era de 5,39 por 100 mil habitantes, valor que “deve ser interpretado tendo em conta que a população sob observação foi menor do que a observada em período homólogo de anos anteriores”.
No início de 2020, quando ainda circulava o vírus da gripe e emergiu o coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a doença Covid-19, verificou-se “uma atenuação relativamente aos casos de gripe sazonal”, disse Francisco Antunes, considerando que essa situação esteve associada às medidas de mitigação que foram adotadas na altura para a Covid-19.
“É evidente que o frio leva a que as pessoas se mantenham mais em casa, mas quando circulam fora de casa em espaços fechados estão mais próximas umas das outras e a temperatura, o frio e a baixa da humidade são fatores relevantes para o risco de transmissão das doenças respiratórias”, adiantou.
Sobre o excesso de mortalidade que se tem verificado, Francisco Antunes disse ser “perfeitamente admissível” porque “o Serviço Nacional de Saúde já entrou em rutura” com “a incapacidade” de dar resposta, por exemplo, às cirurgias programadas, assinalando que ao mesmo tempo que há “uma redução substancial de testes (à Covid-19), que são fundamentais para quebrar as cadeias de transmissão”.
“A sensação que tenho é que estamos a voar neste momento sem uma bússola”, lamentou, considerando que o país está “numa corrida contra o tempo”, considerando que os efeitos da vacina só se vão sentir no próximo ano.
Francisco Antunes defendeu que a vacinação contra aCcovid-19 deveria abranger desde já o maior número de pessoas, protelando a administração da segunda dose.
“Há vários países que já adotaram essa estratégia”, salientou.
Quanto às medidas de confinamento que hoje vão ser anunciadas, defendeu que já deviam ter sido tomadas há 15 dias, considerando que “o aligeiramento das medidas no Natal foi muito imprudente”.
LUSA/HN
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