A primeira vacina foi hoje administrada a um trabalhador do setor da saúde na capital, Nova Deli, seguindo-se pouco depois outros funcionários de hospitais, considerados um grupo prioritário, em vários estados do país.
“Estamos a lançar a maior campanha de vacinação do mundo e isso mostra ao mundo a nossa capacidade”, disse o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, num discurso transmitido pela televisão.
O governante alertou para a necessidade de continuar a adotar medidas sanitárias para prevenir o contágio e pediu à população para não dar ouvidos a “rumores sobre a segurança das vacinas”, referindo-se à polémica vacina desenvolvida por um laboratório local e aprovada com urgência, com médicos e cientistas a denunciarem falhas nos ensaios clínicos.
A colossal campanha de vacinação recorre a duas vacinas: a Covaxin, desenvolvida pela empresa de biotecnologia Bharat Biotech e pelo Conselho Indiano de Pesquisa Médica, e a Covishield, da AstraZeneca e Universidade de Oxford, ambas produzidas pelo Instituto Serum da Índia.
A Covaxin recebeu aprovação de emergência no início de janeiro, antes de os ensaios da fase 3 estarem concluídos.
De acordo com Prabir Chatterjee, médico e especialista em programas de imunização em Bengala ocidental, ouvido pela agência de notícias France-Presse (AFP), a aprovação “irritou muitos médicos e cientistas de topo”.
“Suponho que a vacina da Bharat Biotech, depois de ser avaliada, poderia ser a melhor, a mais barata e a mais prática para os países em desenvolvimento”, disse o médico à AFP, na véspera do arranque da campanha de vacinação. “Mas (…) penso que não deveríamos iniciar o processo de vacinação e utilizá-la antes de ter sido testada”, defendeu.
O laboratório indiano, um dos mais importantes a nível mundial, já forneceu mais de três mil milhões de vacinas contra doenças como a encefalite japonesa e a hepatite B, mas tem tido dificuldades nos ensaios clínicos da Covaxin, tendo recrutado apenas metade dos 26.000 voluntários necessários.
Os críticos denunciam também abusos no recrutamento de voluntários, em alguns casos feito em comunidades pobres, a troco do pagamento de 750 rupias (cerca de seis euros), como aconteceu no estado de Bhopal, sem esclarecer os participantes sobre os riscos associados, de acordo com a AFP.
Cerca de 300 milhões de pessoas (o equivalente à população dos Estados Unidos) deverão ser inoculadas até julho, na primeira fase da campanha de vacinação, num país com 1,3 mil milhões de habitantes.
Desde o início da pandemia, a Índia contabilizou mais de 10,5 milhões de casos do novo coronavírus (10.542.841), mantendo-se como o segundo país com mais infeções, atrás dos Estados Unidos, que no último balanço contavam com mais de 23 milhões.
Com um total de 152.093 mortes, a Índia é o terceiro país do mundo com mais óbitos, a seguir aos Estados Unidos e ao Brasil, de acordo com a contagem da Universidade norte-americana Johns Hopkins. O país tem atualmente 211.033 casos ativos da doença.
A pandemia de covid-19 provocou mais de 2 milhões de mortos resultantes de mais de 93 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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