A iniciativa foi promovida pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) para assinalar o Dia Internacional do Enfermeiro e apelar para a “justa valorização” destes profissionais, como se podia ler ao longo da Avenida da Liberdade em várias faixas seguradas pelos enfermeiros, com inscrições como “antigo na profissão, mas ‘novo’ no salário”, “prémios covid-19 são discriminatórios”, “reconhecer a formação de especialista” ou “carreira única”.
Já na Praça dos Restauradores, soaram palavras de ordem como “Anos trabalhados, têm de ser contados”, “Viva o Dia Internacional do Enfermeiro” e “Governo escuta, enfermeiros estão em luta”.
A encabeçar a manifestação, o presidente do SEP, José Carlos Martins, disse à agência Lusa que a manifestação teve como propósito “enaltecer o grande desenvolvimento da enfermagem, o grande papel, profissionalismo, empenho, dedicação e esforço que os enfermeiros dão todos os dias” para responder à população.
“Mas isto também exige melhores condições de trabalho, portanto, é fundamental que o Governo resolva o essencial e que são problemas essenciais dos enfermeiros”, salientou o dirigente sindical, que apontou “a célebre e famigerada contagem dos pontos a todos os enfermeiros e negociação de uma carreira única”.
José Carlos Martins saudou a medida anunciada hoje pelo Ministério da Saúde de vincular 630 enfermeiros que exerciam no Serviço Nacional de Saúde com contratos de trabalho sem termo ou por tempo indeterminado em funções públicas.
“Registamos e valorizamos (…) contudo é insuficiente esta solução. Ou seja, é necessário continuar a contratar e a vincular mais”, defendeu.
Enfermeiro no Hospital Santo António, no Porto, Nuno Lourinho fez questão de participar no protesto para manifestar “o desagrado com as políticas do Governo que desvalorizam os enfermeiros, não contando o tempo que têm de serviço” e também em solidariedade como “os colegas que estão na frente da luta contra a pandemia em condições de precariedade”.
Nuno Lourinho disse que no dia-a-dia o que sente, e que considera ser “transversal à profissão”, é o “sentimento de injustiça de ver colegas com 20 anos de serviço que têm exatamente o mesmo ordenado que colegas contratados há pouco tempo”.
“O nosso trabalho é difícil e penoso e vemos, no entanto, que o Governo não quer saber nada disso e continua com a idade de reforma nos 67 anos. É impossível fisicamente e mentalmente um enfermeiro durar até aos 67 anos, é impensável”, lamentou Nuno Lourinho.
Teresa Faria, enfermeira no Hospital Garcia de Orta, em Almada, partilha da mesma sensação de injustiça, salientando que os enfermeiros foram sempre “o pilar” do SNS e que “todos os governos têm estado sempre a atuar com promessas, essencialmente, publicitadas para a população, a dizer que vão fazer, que reconhecem etc”.
“Eles sabem perfeitamente que somos importantes, mas do ponto de vista prático não nos resolvem problema absolutamente nenhum, desde as condições de trabalho, desde a admissão”, lamentou.
Para Teresa Faria, “é extremamente ofensivo” o Estado oferecer contratos de quatro meses em plena pandemia, considerando que “não dá para fazer nem a integração e é mais uma sobrecarga para os colegas que os têm de integrar sem haver depois uma rentabilidade”.
“Temos situações extremamente penosas, como na pandemia, em que já estávamos com um número muito baixo de enfermeiros a suportar o Serviço Nacional de Saúde e a pandemia ainda veio agravar muito mais a situação”, salientou.
Jorge Pires, membro da Comissão Política do PCP, e a deputada comunista Paula Santos marcaram presença na manifestação para “manifestar solidariedade” com estes profissionais no Dia Internacional do Enfermeiro e salientar o seu “papel fundamental” ao longo dos anos.
“O plano de vacinação tem atrasos significativos, não apenas por causa da falta de vacinas, que é o principal problema, mas também porque faltam profissionais, sobretudo, enfermeiros e simultaneamente temos conhecimento de uma orientação do Governo de não renovar os contratos com milhares de enfermeiros que foram fundamentais no combate à covid-19”, criticou Jorge Pires.
“O PCP tem feito tudo” para que fosse aprovado no parlamento “um conjunto de normas legislativas que ajudassem a resolver este problema”, mas bateu sempre contra “uma parede intransponível por parte do PS, PSD, e do CDS”, disse.
“Estes homens e estas mulheres dão tudo e, portanto, não basta bater palmas, não basta agradecimento, é preciso ir ao encontro das suas reivindicações e dos seus direitos”, sublinhou.
LUSA/HN
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