Frustração de uma vida de dietas sem sucesso leva à procura da cirurgia bariátrica

22 de Maio 2021

A frustração de uma vida de dietas sem resultado, a baixa autoestima e a discriminação por serem obesos leva muitos doentes a recorrer à cirurgia barátrica, que encaram como a “solução milagrosa” para os seus problemas.

A história da obesidade na maior parte destes doentes começou logo na infância e quando aparecem na consulta, aos 40, 50 anos, relatam várias tentativas frustradas de dietas, disse à Lusa Sandra Velez, psicóloga clínica que integra a equipa da Unidade de Tratamento Cirúrgico de Obesidade do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC).

“Têm a autoestima baixa, a frustração de não conseguirem perder peso e lidarem mal com a imagem corporal ou sentirem-se discriminados a nível profissional e até mesmo a nível das relações interpessoais”, adiantou Sandra Velez, que faz o acompanhamento destes doentes antes e depois da cirurgia.

Como o tempo de espera às vezes é longo até à cirurgia, há doentes que acabam por desistir. A motivação é muito importante porque “muitas vezes [os doentes] pensam que a cirurgia bariátrica é uma solução milagrosa e não é”, contou à agência Lusa

Por isso, é preciso perceber e avaliar os níveis de motivação da pessoa para a cirurgia: “Vêm à procura de uma solução com uma postura passiva e têm que perceber que têm de ter uma postura ativa, alterar o estilo de vida e fazer a adesão a outros comportamentos para uma vida mais saudável e a motivação pode surgir de uma forma mais sustentada ou não”.

Numa reportagem ao hospital Curry Cabral, a propósito do Dia Nacional da Luta Contra a Obesidade que hoje se assinala, a agência Lusa falou com Maria João Silva, de 55 anos, que foi a uma consulta de endocrinologia, antes de ser operada na próxima quarta-feira. O médico José Silva Nunes recomendou-lhe a medicação que terá de alterar após a cirurgia.

Tem 1,58 de altura, pesa 107 quilos e tem um Índice de Massa Corporal elevado. Depois de se pesar, medir a cintura e a tensão arterial, o médico disse-lhe que aumentou 700 gramas desde a última consulta, mas ganhou massa corporal.

“Uma pessoa que faz tudo certinho, fica muito desanimada quando vai à balança e tem exatamente o mesmo peso”, mas isso acontece porque o reduziu em termos de gordura, mas aumentou em termos músculo, “o que até é uma boa evolução”, explicou José Silva Nunes.

Com problemas de hipertensão, colesterol elevado e problemas nos joelhos devido a um acidente de carro, Maria João decidiu avançar sem medos para a cirurgia.

“Tenho uma criança de seis anos e custa-me imenso no dia-a-dia querer brincar com ela à vontade e não conseguir. Sento-me, por exemplo, no chão, mas depois para me levantar custa muito”, desabafou, convicta que vai ganhar mais qualidade de vida.

Nos últimos anos, o CHULC teve “um aumento brutal de pedidos de consultas”, disse José Silva Nunes, adiantando que já retomaram os níveis de atividade pré-pandemia, fazendo entre seis a 10 cirurgias por semana.

O processo que conduz à cirurgia começa com uma reunião de grupo chamada “Avaliação multidisciplinar para o tratamento cirúrgico da obesidade” que, por exemplo, na quinta-feira reuniu 16 candidatos, a maioria jovens.

Após esta primeira abordagem, o doente é acompanhado entre seis a oito meses em consultas de Endocrinologia, Psicologia, Nutrição, Fisiatria e Fisioterapia.

Vítor Braz da Silva, fisiatra, ajuda estes doentes a fazer as alterações no estilo de vida necessárias para o processo de perda de peso e a sua manutenção que assentam na dieta e no exercício físico, que têm de ser mantidos para o resto da vida.

“Há pessoas cuja obesidade limita funcionalmente o doente” e há uns que têm “tantas dores” que não conseguem integrar o exercício físico no seu dia-a-dia.

Por isso, explicou, é preciso perceber as questões que limitam a sua participação num programa de exercício físico e depois explicar-lhes como e em que condições pode ser feito

“Costumo dizer que o exercício mais certo é aquele que o doente faça e que goste de fazer”, disse Vítor Braz da Silva.

A fisioterapeuta Maria Manuel acrescentou, por seu turno, que é muito importante identificar logo de início todas essas barreiras e conseguir de facto ajudar o doente.

Depois de avaliar o doente, criam-se estratégias de intervenção que passam pelo ensino e correção de dificuldades na atividade da vida diária e o aconselhamento sobre a atividade física.

Tem-se que adaptar o exercício ao tipo de vida que o doente tem, fazer o acompanhamento e depois fazer uma reavaliação para saber se o doente aderiu ou não à proposta para alteração ao estilo de vida, que tem que ser “uma proposta realista”.

“Temos que ser pouco exigentes, mas muito persistentes e ter muita empatia com o doente, porque são pessoas sofredoras, com a sua dignidade muitas vezes posta em causa”, salientou Maria Manuel.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Informação HealthNews: Ana Paula Martins será reconduzida no cargo

De acordo com diferentes fontes contactada pelo Healthnews, Ana Paula Martinis será reconduzida no cargo de Ministra da Saúde do XXV Governo constitucional, numa decisão que terá sido acolhida após discussão sobre se era comportável a manutenção da atual ministra no cargo, nos órgão internos da AD. Na corrida ao cargo, para além de Ana Paula Martins estava Ana Povo, atual Secretária de Estado da Saúde, que muitos consideravam ser a melhor opção de continuidade e Eurico Castro Alves, secretário de estado da Saúde do XX Governo Constitucional.

Auditorias da IGAS apontam fragilidades no combate à corrupção no SNS

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde realizou 14 auditorias a entidades do SNS desde 2023, que identificaram áreas críticas que exigem reforço nos mecanismos de controlo interno e prevenção da corrupção nas entidades auditadas, revela um relatório hoje divulgado

Programa Proinfância apoia mais de 1.200 crianças vulneráveis em Portugal

Desde o seu lançamento em Portugal, em 2021, o Programa Proinfância da Fundação ”la Caixa” tem acompanhado mais de 1.200 crianças e adolescentes, assim como mais de 800 famílias em situação de vulnerabilidade económica e risco de exclusão social em todo o território nacional. 

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights