Comerciantes de Macau duvidam que vaga inicial de vistos turísticos tragam retoma

26 de Agosto 2020

Comerciantes do centro histórico de Macau ouvidos pela Lusa duvidam que a vaga inicial de vistos que uma província vizinha, responsável pela maioria do mercado turístico chinês, começou a emitir, garanta a retoma do turismo, devastado pela pandemia.

Na rua Pedro Nolasco da Silva, a poucos metros do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong e da sede da Casa de Portugal em Macau, o senhor Lam, dono de uma loja dos famosos chás de bolhas, tem o seu estabelecimento praticamente sem clientes e não augura grandes mudanças.

“A meu ver, o valor de negócio não vai rapidamente aumentar porque os vistos são só para a província de Guangdong e a maioria dos turistas vem para Macau só para jogar”, conta à Lusa.

A emissão de vistos já tinha sido iniciada na cidade vizinha de Zhuhai, mas agora estendeu-se a toda a província de Guangdong e, assim, mais de 100 milhões de pessoas passam a estar virtualmente isentas de uma quarentena obrigatória de 14 dias após entrarem em Macau.

“A abertura de vistos é uma boa notícia, mas não sei se é fácil serem aprovados”, disse.

Neste momento, admite, as suas receitas dão apenas para pagar o aluguer do pequeno espaço, o salário aos funcionários, eletricidade e água.

Macau foi dos primeiros territórios a ser atingido pela pandemia e, apesar de só ter identificado 46 casos e de não ter registado qualquer transmissão comunitária, a economia está há mais de seis meses praticamente paralisada, fruto das restrições à entrada no território.

Nem o facto de ser período de férias, nem os cartões de consumo que o Governo de Macau deu aos residentes a partir de agosto (num valor de cerca de 530 euros) para ser gasto no comércio local, ajudou: “Pensava que o negócio este mês ia melhorar, mas …”, desabafa, sem acabar a frase.

Lam sabe que se a situação se mantiver estável em termos de contágios, a China planeia autorizar em todo o país a emissão de vistos turísticos para Macau a partir de 23 de setembro e isso deixa-o moderadamente confiante: “Se a situação da pandemia melhorar no futuro há mais abertura de vistos para mais províncias, mas mesmo assim o negócio não vai aumentar nos próximos dois, três meses”.

A tónica do discurso dos vários comerciantes ouvidos pela Lusa foi praticamente sempre a mesma: expectantes, pouco esperançados, a pedirem mais apoios ao Governo e a desejar que 23 de setembro traga a luz verde para a emissão dos vistos em toda a China.

Um pouco mais à frente, já no coração do centro histórico, a Rua de São Paulo, que alberga as famosas ruínas de uma antiga igreja construída pelos portugueses, está praticamente vazia, estão apenas alguns residentes de férias ou a aproveitarem o fim da hora de almoço.

Nesta zona, provavelmente a mais movimentada do território e que em 2019 recebeu quase 40 milhões de visitantes, um funcionário da loja Feng Cheng Recordação Macau diz que até agora só vendeu 10% em relação ao ano anterior.

O número avançado por este funcionário está em sintonia com os últimos valores avançados pelo Governo: o número de visitantes em Macau caiu mais de 90% em junho e 83,9% no primeiro semestre, nos primeiros sete meses do ano as perdas dos casinos em relação ao ano anterior foram de 79,8% e a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre foi de 58,2%.

“O valor agora pode aumentar agora um pouco com os vistos, mas acho que é impossível voltar para o nível do mesmo período do ano passado”, aposta.

Até porque, explica, mesmo com a emissão de vistos, “há uma série de limitações para passar a fronteira, como a obrigação de fazer o teste de ácido nucleico e usar máscara”.

Em frente a este estabelecimento de recordações, a loja Kin Seng Mobílias encontra-se também sem clientes e a viver a mesma incerteza.

“Por causa da epidemia quase não há nenhum negócio”, evidencia a proprietária, a senhora Sio, atirando logo de seguida: “espero que a situação melhore e com isso mais províncias tenham vistos para cá”.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 813 mil mortos e infetou mais de 23,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

NR/HN/LUSA

 

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