Hospital Militar do Porto “ajuda” São João a recuperar listas de espera de cirurgias

16 de Setembro 2020

O Hospital das Forças Armadas (HFA) do Porto está a realizar cirurgias do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) ao abrigo de um protocolo que ajudará Carlos Costa e centenas de outros doentes a recuperar meses de espera.

Foi em meados de 2018 que Carlos Costa ficou inscrito na lista de espera de otorrino do Hospital de São João (Porto) a aguardar por uma cirurgia que o ajudará a respirar melhor. Deitado numa maca já a caminho do bloco operatório daquela unidade das Forças Armadas conhecida como Hospital Militar do Porto, o empresário ligado à construção civil brinca com os médicos e enfermeiras enquanto fala à agência Lusa.

“Está preparado?” – perguntam-lhe. “Sim, por favor, até dou um empurrãozinho” – responde, desviando a maca da parede.

Esta é uma cirurgia “muito aguardada” porque Carlos Costa passa “a maior parte do ano com o nariz entupido” e sente que faz “um grande esforço para respirar”. “É um incómodo grande: E esposa queixa-se um bocadinho do ressonar”, desabafa.

Carlos Costa, 41 anos, residente em Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro, é um dos muitos pacientes do CHUSJ que aceitou integrar o programa de cirurgias que une aquele centro hospitalar ao polo do Porto do HFA.

Em julho o São João enviou 69 fichas de doentes ao Hospital Militar e prepara, agora, uma nova lista de pessoas que aguardam operação. No total, o protocolo assinado contempla 280 cirurgias.

“Esta aquisição de serviços hospitalares para cirurgia é um projeto pioneiro que tem como objetivo rentabilizar as estruturas públicas. Com a pandemia, o CHUSJ viu os seus doentes inscritos para cirurgia aumentar. Estamos a proceder ao envio de doentes de forma faseada. Alguns já foram operados, outros têm cirurgia agendada, outros estão a fazer o pré-operatório, consultas (…). A aceitação tem sido muito boa”, conta à Lusa a diretora da Unidade Autónoma de Gestão do CHUSJ, Elisabete Barbosa.

Convicção semelhante tem o subdiretor do polo do Porto do HFA, António Moura, que lidera uma equipa de cerca de 90 médicos e gere uma estrutura que conta com cerca de 70 camas de internamento distribuídas pelos serviços de medicina, cirurgia, reabilitação e cuidados intermédios.

A reserva estratégica do HFA já tinha sido acionada devido a surtos associados ao novo coronavírus, nomeadamente para acolhimento de idosos de lares, mas a “missão”, como descreve António Moura, deste hospital normalmente associado à “família militar e a forças policiais” levou-o a propor a hospitais vizinhos outros modos de apoio.

“Temos alguma capacidade sobrante. Foi decidido perguntar aos hospitais da área se precisavam de alguma ajuda nas suas listas de espera. O São João respondeu afirmativamente. Agora estamos a fazer um ‘forcing’ para tentar cumprir o contrato até ao final do ano”, refere.

Com este protocolo, tanto o subdiretor do HFA como a também diretora de serviço de Cirurgia Geral do CHUSJ esperam conseguir “encurtar” listas de espera que a pandemia da covid-19, que já provocou mais de 929 mil mortos no mundo, veio acentuar.

Foi a 13 de março que o São João passou a atender, em bloco operatório, apenas casos urgentes. A retoma da atividade programada teve início em maio e, desde então, segundo Elisabete Barbosa, entre julho e agosto, “graças ao esforço dos profissionais, todas as salas de cirurgia estiveram a funcionar das 08:00 às 20:00 incluindo fins de semana”.

“Quando compararmos com as cirurgias programadas no período homólogo de 2019, veremos que aumentamos a nossa atividade cirúrgica, mas este protocolo vem complementar a nossa resposta”, aponta.

O procedimento é simples: o CHUSJ avalia os doentes prioritários ou cuja espera por cirurgia está a atingir o tempo de resposta considerado “esperado” e encaminha-os, após consentimento destes, para o HFA.

“Trabalhamos em estreito acordo com o Hospital de São João. Uma estreita colaboração entre as equipas dos dois hospitais. Os médicos de lá identificam os doentes que devem ser tratados mais rapidamente e os de cá resolvem o problema o mais prontamente”, resume António Moura, enquanto Elisabete Barbosa acrescenta que a resposta dos pacientes tem sido “muito positiva”, porque lhes é explicado que “para terem uma resposta com a qualidade que o São João oferece podem passar para o Hospital Militar e será igual”.

Carlos Costa é, aliás, exemplo disso: “Há dois meses, talvez nem tanto, fui contactado pelo São João e disseram que as cirurgias de otorrino estavam em atraso devido às circunstâncias do país e perguntaram se eu queria ser encaminhado para o Hospital Militar. Tenho boas referências [do Hospital Militar] e disse que sim sem pensar duas vezes”, conclui o paciente.

As 280 cirurgias “partilhadas” pelo CHUSJ e pelo HFA do Porto pertencem a especialidades como cirurgia geral, vascular, plástica, ortopedia, otorrino, oftalmologia e urologia.

NR/HN/LUSA

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