Estudo indica que medidas isoladas são menos eficazes do que combinadas

23 de Outubro 2020

Um estudo da Universidade de Edimburgo (Escócia) publicado esta sexta-feira sublinha que as medidas combinadas contra o novo coronavírus são mais eficazes do que isoladas e que o distanciamento físico é fundamental até haver uma vacina.

Na investigação publicada na revista The Lancet é referido que, analisando as medidas tomadas em 131 países, entre 1 de janeiro e 20 de julho de 2020, a suspensão de eventos e reuniões públicas com mais de 10 pessoas resultou, após 28 dias, numa redução de 29% do número “R”, a taxa de reprodução da Covid-19.

Em contraste, ao introduzir “o pacote mais abrangente”, semelhante a um confinamento, o número “R” foi reduzido em 52% durante o mesmo período.

Entre estes extremos, os autores conceberam vários cenários para analisar o impacto de outras medidas isoladas, tais como a suspensão de aulas, encerramento de locais de trabalho ou restrições aos movimentos internos, e o de quatro combinações de restrições que poderiam ser descritas como “bloqueios”.

“Verificámos que a combinação de diferentes medidas produziu os melhores resultados na redução da transmissão da Covid-19. Agora que estamos a experimentar uma recuperação do vírus, as autoridades deviam considerar combinar medidas para reduzir o número ‘R'”, recomendou, num comunicado, o principal autor do estudo, Harish Nair.

Nair considera que as suas conclusões podem ajudar os governos a decidir “que medidas podem ser introduzidas ou eliminadas” e “quando poderão ver os seus efeitos”, embora tenha observado que o sucesso também depende do “contexto local”, ou seja, do número “R” na altura, da capacidade do seu sistema de saúde ou do impacto socioeconómico.

Entre as medidas individuais mais eficazes, o estudo concluiu que a proibição de eventos públicos reduziu a taxa de transmissão após 28 dias em 24%, o que pode ser atribuído à prevenção da atuação dos “supercontagiantes” e é frequentemente a primeira decisão tomada pelas autoridades.

Quando as restrições são levantadas, o regresso das reuniões de mais de 10 pessoas e a reabertura das escolas foram associados ao maior aumento do número “R”, até 25% e 24% respetivamente, seguido pelo reinício dos eventos públicos (21%), o fim da restrição das viagens internas (13%) e a retirada da recomendação de ficar em casa (11%).

Não é claro que o aumento nas escolas, disse Nair, possa ser atribuído a “grupos etários específicos”, onde pode haver “diferenças substanciais no cumprimento das medidas de distanciamento social dentro e fora da sala de aula”, bem como no tamanho das turmas, hábitos de higiene ou política de máscara adotada por cada país.

“Outros estudos demonstraram que certas medidas, tais como o encerramento de escolas, distância social e confinamento (uma combinação de todas as medidas) podem trazer o ‘R’ para perto ou abaixo de 1 – o que indica que a epidemia está a diminuir – mas este é o primeiro trabalho que analisa os efeitos do alívio das medidas sobre este número”, salientam os autores.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.245 em Portugal.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Médicos do Centro ambicionam nova sede em Coimbra dentro de quatro anos

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) deverá ter uma nova sede dentro de quatro anos, num local central da cidade de Coimbra, anunciou hoje o presidente da instituição, Manuel Teixeira Veríssimo (na imagem), na apresentação da sua recandidatura.

Universidade Católica lança três novos mestrados em Enfermagem em Lisboa e no Porto

A Universidade Católica Portuguesa vai lançar, no ano letivo 2025/2026, três novos mestrados em Enfermagem, nas áreas Médico-Cirúrgica, Saúde Infantil e Pediátrica e Comunitária, com edições em Lisboa e no Porto, apostando numa formação inovadora e multidisciplinar para responder às exigências do setor da saúde.

Ana Sampaio: “É possível ser feliz com DII

No Dia Mundial da Doença Inflamatória do Intestino, Ana Sampaio, presidente da APDI, destaca a importância da sensibilização, do acesso a tratamentos e do apoio emocional, reforçando: “É possível ser feliz com DII

DII afeta 25 mil portugueses e custa 146 milhões de euros por ano

A Doença Inflamatória Intestinal afeta cerca de 25 mil portugueses, com custos anuais de 146 milhões de euros. O diagnóstico tardio e o difícil acesso a terapias inovadoras agravam o impacto na qualidade de vida e nos serviços de saúde.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights