Associação defende “formação mais profunda” dos oncologistas em cuidados paliativos

23 de Novembro 2020

A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) defendeu hoje “uma formação mais profunda” dos oncologistas em cuidados paliativos para inverter a elevada tendência da agressividade terapêutica em fim de vida e privilegiar uma medicina centrada no doente.

A APCP defende também a integração de um médico especialista em cuidados paliativos nas equipas multidisciplinares de oncologia e a inclusão de um indicador composto de agressividade terapêutica em fim de vida do doente oncológico na contratualização com os hospitais.

Estas recomendações fazem parte de uma tomada de posição pública da associação sobre o estudo “Agressividade dos Cuidados Oncológicos em fim de vida” em que os investigadores fizerem uma análise retrospetiva, incluindo todos os doentes oncológicos adultos que faleceram em hospitais públicos entre janeiro de 2010 e dezembro de 2015.

Segundo o estudo, que incluiu mais de 92 mil doentes, 07 em cada 10 doentes oncológicos que morrem num hospital público em Portugal continental são expostos no último mês de vida a cuidados considerados excessivamente agressivos, como o internamento hospitalar por mais de 14 dias (43%) e a cirurgia (28%).

“Atendendo à magnitude destes dados torna-se essencial ter objetivos claros para implementação de políticas de melhoria dos cuidados nas instituições e a nível nacional”, afirma a APCP em comunicado.

Para a associação, o alargamento da cobertura nacional em Cuidados Paliativos “é urgente e imprescindível” para a população, “mas a integração precoce destes cuidados no percurso do doente oncológico é algo que tem provado na literatura internacional ser um fator de melhoria de qualidade de vida dos doentes”.

Não só porque lhes permite “um melhor controlo sintomático” como “uma melhor comunicação, gestão de expectativas e participação mais consciente e satisfatória nas decisões ao longo do seu percurso de doença.

“A inclusão de um indicador composto de agressividade terapêutica em fim de vida do doente oncológico na contratualização com os hospitais é uma das medidas sugeridas pelos autores e que pode ser de uma grande eficácia a curto prazo”, salienta.

Através deste indicador podem ser traçados objetivos concretos de melhoria, aumentando não só a consciencialização dos profissionais para esta questão, mas principalmente o investimento das instituições na humanização dos cuidados e na melhoria dos recursos em Cuidados Paliativos, justifica a APCP.

Além de essencial, este investimento “é imprescindível” para que exista uma avaliação regular da atividade e desempenho destas equipas, permitindo uma melhoria contínua.

Para a APCP, o estudo apresentado pelo grupo de investigação do King’s College London, liderado pela investigadora Bárbara Gomes, “é um marco importante no conhecimento da realidade dos cuidados de fim de vida do doente oncológico em Portugal, chamando a atenção para a elevada agressividade terapêutica” praticada em Portugal.

Estes dados devem levar “a uma profunda reflexão e a uma séria mudança de paradigma de acompanhamento do doente”, para “melhorar e personalizar os cuidados aos doentes oncológicos” e gerar “dados sólidos para sustentar recomendações de políticas de saúde no sentido da redução da agressividade terapêutica em fim de vida do doente oncológico”.

“A qualidade de vida é uma das principais preocupações dos doentes com doença oncológica avançada”, mas “a realidade portuguesa ainda está longe desse ideal”.

LUSA/HN

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