OCDE indica que acesso a vacinas para países pobres continua largamente subfinanciado

8 de Fevereiro 2021

Um ano após o primeiro caso do novo coronavírus, os esforços para acelerar a resposta à pandemia, incluindo acesso às vacinas pelos países pobres, continuam largamente subfinanciados com um défice global que atinge 27,2 mil milhões de dólares.

A conclusão consta de um relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE), que analisa os obstáculos que os países pobres enfrentam no acesso a vacinas, apresentado hoje publicamente.

De acordo com o documento, o Access to Covid Tools (ACT) Accelerator, uma das principais iniciativas multilaterais para acesso a equipamentos, diagnósticos e vacinas, regista uma lacuna de financiamento de 27,2 mil milhões de dólares (22,5 mil milhões de euros) em 2021.

Além das falhas de financiamento para tratamentos (-2,7 mil milhões de dólares) e diagnósticos (-8,9 mil milhões de dólares), é na componente de acesso às vacinas, através do mecanismo Covax, que a lacuna mais se reflete nos países pobres.

Globalmente as iniciativas de compra de vacinas registam um défice de financiamento de 7,8 mil milhões de dólares (6,4 mil milhões de euros), sendo 5 mil milhões de dólares apenas relativos ao subfinanciamento à Covax.

Uma lacuna que se reflete exclusivamente nos 92 países de médio e baixo rendimento que aderiram a este mecanismo liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Aliança Global para as Vacinas (Gavi).

Na sua intervenção durante a apresentação do relatório, o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, lamentou que a plataforma Covax esteja “tão pouco financiada”, defendendo que uma distribuição igualitária das vacinas é o “correto tanto moral, como económica como politicamente”.

No mesmo sentido, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, considerou que a vacinação equitativa em todos os países “é chave para a recuperação económica global”.

O dirigente da OMS recordou que 75% das doses de vacinas para a Covid-19 foram compradas por apenas 10 países.

“Não é justo que haja países a vacinar jovens saudáveis, enquanto outros de médios e baixos rendimentos nem sequer conseguem vacinar os trabalhadores da saúde”, disse.

De acordo com a OMS, 130 países que acolhem conjuntamente uma população de 2,5 mil milhões de pessoas, não têm uma única dose das vacinas.

As vacinas BioNTech/Pfizer, Moderna e AstraZeneca/Oxford estão a ser aplicadas maioritariamente nos países ricos, numa altura em que os antivirais da China (Sinopharm) e da Rússia (Sputnik V) começam também a ganhar terreno.

O diretor-geral da Gavi, Seth Berkley, estimou que dos 2,3 mil milhões de vacinas que a Covax irá entregar este ano, pelo menos 1,6 mil milhões serão para as populações dos 92 países de menores rendimentos.

“Estamos a trabalhar para reforçar o sistema de entrega ao mesmo tempo [em todos os países], mas ainda não chegámos lá. Estabelecemos um objetivo de assegurar pelo menos sete mil milhões de vacinas e temos de concluir o trabalho”, afirmou.

Berkley acrescentou que a Covax ainda precisa de angariar pelo menos mais 2 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros) de financiamento até ao início do Verão e que é necessário ter vacinas diferentes para melhorar a cobertura.

Seth Berkley defendeu ainda que os países podem ajudar a acelerar o processo, garantindo que as suas doses excedentárias sejam distribuídas através da Covax.

“Gostaríamos que todos os países se comprometessem a doar [o excesso de vacinas] através da Covax porque só assim será possível garantir o princípio de equidade na distribuição”, frisou.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.316.812 mortos no mundo, resultantes de mais de 106 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Lusa/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Daniel Ferro: Retenção de Médicos no SNS: Desafios e Estratégias

Daniel Ferro, Administrador Hospitalar na USF S. José, apresentou no 10º Congresso Internacional dos Hospitais um estudo pioneiro sobre a retenção de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A investigação revela as principais causas de saída e propõe estratégias para melhorar a retenção de talentos.

Inovação Farmacêutica: Desafios e Oportunidades no Acesso a Novos Medicamentos

A inovação farmacêutica enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao acesso e custo de novos medicamentos. Num cenário onde doenças como Alzheimer e outras condições neurodegenerativas representam uma crescente preocupação para os sistemas de saúde, o Professor Joaquim Ferreira, Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, abordou questões cruciais sobre o futuro da inovação terapêutica, os seus custos e o impacto na sociedade durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hopitalar (APDH).

Desafios e Tendências na Inovação Farmacêutica: A Perspetiva de Helder Mota Filipe

O Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, abordou os principais desafios e tendências na inovação farmacêutica durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais. A sua intervenção focou-se na complexidade de garantir o acesso a medicamentos inovadores, considerando as limitações orçamentais e as mudanças demográficas e epidemiológicas em Portugal

Carlos Lima Alves: Medicamentos Inovadores: O Desafio do Valor Sustentável

Carlos Lima Alves, Médico e Vice-Presidente do Infarmed, abordou a complexa questão dos medicamentos inovadores no 10º Congresso Internacional dos Hospitais, promovido pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). A sua intervenção centrou-se na necessidade de equilibrar o valor dos medicamentos com os custos associados, destacando a importância de uma avaliação rigorosa e fundamentada para garantir que os recursos financeiros sejam utilizados de forma eficaz e sustentável.

Projeto Pioneiro em Portugal Aborda Gestão de Resíduos na Diabetes

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos apresentou um projeto inovador sobre a gestão de resíduos resultantes do tratamento da diabetes, na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. O projeto “Diabetes e o meio ambiente” visa sensibilizar e capacitar pacientes e famílias para a correta separação de resíduos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

MAIS LIDAS

Share This