Estudo indica que impacto em África tem sido “consideravelmente subestimado”

18 de Fevereiro 2021

A ausência de dados sobre a Covid-19 em África "fomentou a opinião generalizada" de que o vírus teve pouco impacto, mas um estudo realizado em Lusaka sugere que o impacto da doença foi "consideravelmente subestimado".

A investigação observacional foi liderada pela Universidade de Boston (EUA) e publicada no British Medical Journal (BMJ).

O estudo baseia-se nos resultados de testes PCR de 364 mortos na morgue do Hospital Universitário de Lusaka, capital da Zâmbia, entre junho e setembro de 2020, realizados nas 48 horas seguintes à morte.

Os resultados indicam que as mortes por Covid-19 representaram entre 15% a 20% de todas as amostras, “muitas mais do que sugerem os relatórios oficiais, e contradizem a opinião generalizada de que a doença saltou grande parte de África e teve pouco impacto”, revela a revista.

Além disso, as mortes ocorreram “numa faixa etária mais ampla do que a declarada noutros locais e concentraram-se em pessoas com idade inferior a 65 anos, incluindo um número inesperadamente elevado de mortes em crianças”.

Sendo um estudo observacional com dados de uma única cidade e mais de três meses pode ter várias limitações, mas o BMJ observa que é uma investigação bem concebida feita por investigadores com um elevado nível de especialização em amostragem post-mortem e recolha de dados, “o que minimiza a possibilidade de resultados falso-positivos”.

A investigação indica que o vírus foi detetado em 70 (19%) dos falecidos, com uma idade média de 48 anos, 70% dos quais eram homens.

A maioria das mortes por Covid-19 (73%) ocorreu fora do hospital e nenhuma destas pessoas tinha sido testada para o vírus. Das 19 pessoas que morreram numa instalação médica, seis foram testadas.

Entre as 52 pessoas que apresentaram sintomas, 44 tiveram sinais típicos da doença (tosse, febre, falta de ar).

A Covid-19 foi identificada em sete crianças, das quais apenas uma tinha sido testada antes da morte, e a proporção de mortes por esta doença aumentou com a idade, mas 76% eram menores de 60 anos.

As cinco condições subjacentes mais comuns entre os que morreram foram tuberculose (31%), tensão arterial elevada (27%), SIDA (23%), consumo de álcool (17%) e diabetes (13%).

A equipa sublinha que é essencial compreender a verdadeira extensão do impacto da Covid-19 em África, não só devido ao “imperativo moral” de reconhecer o sofrimento onde ele existe, mas também porque se este continente for considerado “uma pequena ameaça, poderá perder prioridade no acesso às vacinas”.

Lusa/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Rui Afonso é o novo partner da ERA Group

Rui Afonso é o novo partner da ERA Group, consultora especializada em otimização de custos e processos para as empresas. Com mais de 25 anos de experiência em gestão de negócios, vendas e liderança de equipas no setor dos dispositivos médicos, reforça agora a equipa da ERA Group em Portugal, trazendo a sua abordagem estratégica, motivação e paixão pelo setor da saúde. 

Fundação Portuguesa de Cardiologia – Delegação Norte lança “Ritmo Anárquico”, programa de rastreios gratuitos à fibrilação auricular

A Fundação Portuguesa de Cardiologia – Delegação Norte vai lançar a campanha “Ritmo Anárquico”, um programa de rastreios gratuitos à fibrilação auricular na região norte do País. A iniciativa vai arrancar na sede da Fundação Portuguesa de Cardiologia, no Porto, no dia 4 de abril, com rastreios a decorrer entre as 10h00 e as 13h00 e as 14h00 e as 17h00.

Fórum da Saúde Respiratória debate a estratégia para a DPOC em Portugal

Com o objetivo de colocar as doenças respiratórias como uma prioridade nas políticas públicas de saúde em Portugal, terá lugar no próximo dia 9 de abril, das 9h às 13h, no edifício Impresa, em Paço de Arcos, o Fórum Saúde Respiratória 2025: “Doenças Respiratórias em Portugal: A Urgência de Uma Resposta Integrada e Sustentável”.

Gilead, APAH, Exigo e Vision for Value lançam 4ª Edição do Programa Mais Valor em Saúde – Vidas que Valem

O Programa Mais Valor em Saúde – Vidas que Valem anuncia o início da sua 4ª edição, reforçando o compromisso com a promoção da cultura de Value-Based Healthcare (VBHC) em Portugal. Esta edição conta com um novo parceiro, a Vision for Value, uma empresa dedicada à implementação de projetos de VBHC, que se junta à Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), EXIGO, Gilead Sciences, e ao parceiro tecnológico MEO Empresas.​

Medicamento para o tratamento da obesidade e único recomendado para a redução do risco de acontecimentos cardiovasculares adversos graves já está disponível em Portugal

O Wegovy® (semaglutido 2,4 mg), medicamento para o tratamento da obesidade, poderá ser prescrito a partir do dia 1 de abril de 2025 em Portugal, dia em que a Novo Nordisk iniciará a sua comercialização e abastecimento aos armazenistas. O Wegovy® estará disponível nas farmácias portuguesas a partir do dia 7 de abril.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights