A investigação observacional foi liderada pela Universidade de Boston (EUA) e publicada no British Medical Journal (BMJ).
O estudo baseia-se nos resultados de testes PCR de 364 mortos na morgue do Hospital Universitário de Lusaka, capital da Zâmbia, entre junho e setembro de 2020, realizados nas 48 horas seguintes à morte.
Os resultados indicam que as mortes por Covid-19 representaram entre 15% a 20% de todas as amostras, “muitas mais do que sugerem os relatórios oficiais, e contradizem a opinião generalizada de que a doença saltou grande parte de África e teve pouco impacto”, revela a revista.
Além disso, as mortes ocorreram “numa faixa etária mais ampla do que a declarada noutros locais e concentraram-se em pessoas com idade inferior a 65 anos, incluindo um número inesperadamente elevado de mortes em crianças”.
Sendo um estudo observacional com dados de uma única cidade e mais de três meses pode ter várias limitações, mas o BMJ observa que é uma investigação bem concebida feita por investigadores com um elevado nível de especialização em amostragem post-mortem e recolha de dados, “o que minimiza a possibilidade de resultados falso-positivos”.
A investigação indica que o vírus foi detetado em 70 (19%) dos falecidos, com uma idade média de 48 anos, 70% dos quais eram homens.
A maioria das mortes por Covid-19 (73%) ocorreu fora do hospital e nenhuma destas pessoas tinha sido testada para o vírus. Das 19 pessoas que morreram numa instalação médica, seis foram testadas.
Entre as 52 pessoas que apresentaram sintomas, 44 tiveram sinais típicos da doença (tosse, febre, falta de ar).
A Covid-19 foi identificada em sete crianças, das quais apenas uma tinha sido testada antes da morte, e a proporção de mortes por esta doença aumentou com a idade, mas 76% eram menores de 60 anos.
As cinco condições subjacentes mais comuns entre os que morreram foram tuberculose (31%), tensão arterial elevada (27%), SIDA (23%), consumo de álcool (17%) e diabetes (13%).
A equipa sublinha que é essencial compreender a verdadeira extensão do impacto da Covid-19 em África, não só devido ao “imperativo moral” de reconhecer o sofrimento onde ele existe, mas também porque se este continente for considerado “uma pequena ameaça, poderá perder prioridade no acesso às vacinas”.
Lusa/HN
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