“A nossa capacidade de resposta em pandemia [de Covid-19] para este tipo de doente é menor, apesar de a procura ter aumentado”, disse em entrevista à agência Lusa a coordenadora da Unidade de Alcoologia e Novas Dependências do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL), Joana Teixeira.
Segundo a psiquiatra, tem-se verificado que doentes que estavam estabilizados da dependência de álcool, por exemplo, estão a pedir mais consultas e mais internamentos por recaídas.
Com a pandemia há um aumento de casos de dependência de álcool, jogo e Internet, mas “a capacidade de resposta dos serviços está limitada, porque o tratamento é muitas vezes em grupo e foi necessário cancelar os grupos pelas questões da pandemia e o internamento também está limitado”, explicou na entrevista, a propósito de um ano da chegada da Covid-19 a Portugal, assinalado hoje.
A médica psiquiatra explicou que o centro hospitalar está a internar um número menor de doentes com dependências do que antes da pandemia pelas restrições do isolamento inicial e da própria estrutura do hospital.
O isolamento imposto pela pandemia também está a afetar os jovens, como demonstrou um estudo no hospital realizado no ano passado que revelou um aumento de sintomas de ansiedade, depressão e insónia nos jovens acima dos 18 anos universitários e também na população desempregada, disse, ressalvando que são estudos da comunidade.
Para Joana Teixeira, as universidades devem ter capacidade de oferecer apoio psicológico: “Vão ter que estar bastante mais alertas para o aparecimento deste tipo de patologia nos jovens e oferecer o encaminhamento para os serviços especializados ou, pelo menos, divulgar os meios de apoio onde os estudantes poderão recorrer caso necessitem”.
A médica psiquiatra acredita que, com o fim da pandemia, haverá “um aumento da procura dos serviços de saúde mental, não só pelas perturbações mentais comuns, mas também pelas próprias dependências”.
As pessoas vão recorrer aos serviços para procurar apoio e ajuda que necessitam para fazer o tratamento das suas patologias, nomeadamente muitos doentes que tiveram infeção por Covid-19, mesmo que tenham sido infeções ligeiras.
“Nos três meses após a infeção, estas pessoas manifestam perturbações mentais e isto é uma preocupação muito grande”, porque vão juntar-se aos doentes psiquiátricos que o hospital já segue normalmente e aos que estavam compensados e que vão eventualmente descompensar das suas patologias, sobretudo, da linha ansiosa e depressiva.
“Além disso, ainda temos os doentes de novo da população em geral que com o confinamento prolongado acabam também por manifestar perturbações mentais”, disse a médica psiquiatra, sublinhando que devido a toda esta situação vai claramente assistir-se ao aumento da procura dos serviços de saúde mental.
Nesse sentido, Joana Teixeira, defendeu que “vai ter que haver uma reestruturação ou uma reorganização na saúde mental de forma a conseguir dar resposta, provavelmente, a este aumento que se vai verificar”.
“Vai ter que haver uma sensibilização muito grande para esta necessidade pós-pandemia de tratar da saúde mental. Se isso for tido em conta acredito que consigamos dar resposta, porque vai ser uma necessidade, as pessoas têm queixas, têm perturbações mentais e têm que ter acompanhamento, vão ter de ter o tratamento necessário”, sustentou a psiquiatra.
Lusa/HN
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