“É um plano realista e um plano faseado, cauteloso, que nos permite ir dando pequenos passos, testando o terreno e garantindo que não há agravamento da situação (…). Mas isto só é possível com a adesão da população às medidas”, afirmou, a propósito do plano apresentado na quinta-feira pelo primeiro-ministro.
Raquel Duarte foi uma das especialistas convidadas pelo Governo para pensar numa resposta para o desconfinamento com critérios objetivos em relação à situação sanitária em cada momento e que permitissem sustentar as decisões políticas de abrir ou encerrar atividades.
“Aquilo que nós tentamos foi precisamente avaliar, para cada uma das medidas e para cada uma das atividades, não só o efeito na carga da doença, mas também o impacto social ambiental e económico, associado também a algum risco comportamental, nomeadamente o risco de não cumprimento das normas que permitem a redução da transmissão, o risco de mobilidade no território e o risco de aglomeração das pessoas”, explicou.
A especialista, que foi secretária de Estado da Saúde entre 2018 e 2019, lembrou que “o vírus continua a circular” e que é essencial que a população mantenha as medidas de proteção para evitar a transmissão.
“Não há nenhuma hipótese de nós continuarmos o levantamento das medidas restritivas se não se cumprirem aquilo que nós já sabemos tão bem que resulta, que é distância, a utilização de máscara e a higienização das mãos e superfícies”, lembrou.
Defendeu ainda que a manutenção de um comportamento adequado e cauteloso, associado ao plano de vacinação, é que vai permitir “continuar a levantar as medidas e ter sucesso”.
A responsável sublinhou que se deve avançar “com muita cautela”, ir dando “pequenos passos, mas seguros”, lembrando que há outros países que “já estão a ter um agravamento da situação da doença”.
Raquel Duarte disse também que a proposta que os especialistas apresentaram ao Governo incluía uma medida nacional, que ligava a incidência da doença ao RT (índice de transmissão), mas também medidas concelhias.
“Nós dividimos as medidas e atividades nacionais e concelhias. O setor escolar era o único que tinha uma medida nacional (…). Em todas as outras atividades, o que propusemos era que fosse avaliado de acordo com o nível de incidência concelhio e também dos concelhos limítrofes, tendo em linha de conta a mobilidade e a pendularidade entre concelhos”, explicou.
Por outro lado, acrescentou, “também se deve ter em linha de conta que há concelhos muito pequenos em que pequenos números podem dar valores de incidência alta”.
“No fundo era suavizar essas pequenas ilhas, esses pequenos concelhos e tornar as medidas muito mais lógicas e racionais”, disse Raquel Duarte, sublinhando: “É aquilo que permite também a responsabilização de cada concelho e a responsabilização individual e coletiva”.
Questionada sobre se este plano afasta do horizonte uma quarta vaga de Covid-19, Raquel Duarte respondeu: “É sempre possível. Não há nenhum plano que isoladamente seja eficaz”.
“É preciso que as pessoas adiram ao plano, mas não só. É preciso que haja cuidados individuais e coletivos no sentido de constantemente (…) garantir que não há transmissão. É preciso que haja condições para a deteção precoce dos casos, para identificar rapidamente os contactos de risco, inquéritos epidemiológicos céleres e uma boa capacidade de testagem”, afirmou.
“Só tudo isto, aliado a um bom plano de vacinação, nos vai permitir continuar a dar passo a passo, sempre em frente, no sentido de libertar as medidas restritivas”, acrescentou.
LUSA/HN
0 Comments