‘Webinar’ sobre comunicação conclui que decisores não souberam explicar pandemia

10 de Julho 2021

Os decisores políticos não souberam transmitir à população a informação clara e explicada relacionada com a pandemia de covid-19, defenderam hoje os participantes num debate sobre os “efeitos secundários da comunicação”.

Transmitido via Internet durante mais de duas horas, o debate juntou oito participantes, tendo ficado expresso que a comunicação sobre a pandemia, no último ano e meio, não foi boa e não ajudou a informar corretamente as pessoas.

Promovido pelo Instituto de Saúde Baseada na Evidência (ISBE) e pela Plataforma Saúde em Diálogo, o ‘webinar’ juntou médicos, professores e outros profissionais, que ao longo do debate consideraram que por vezes houve informação a mais sobre a pandemia. “Se não tiverem nada para comunicar que não se comunique”, disse no final, a propósito, Rosário Zincke, presidente da Plataforma.

Gouveia e Melo, coordenador da ‘task force’ para a vacinação contra a covid-19, o primeiro a falar sobre o tema, lembrou os primeiros momentos da pandemia, que “atraíram muita gente ao palco informativo”, com os “atores tradicionais e os novos atores” a fazerem um espaço mediático mais confuso, com desinformação que criou confusão, com muita comunicação não moderada (nas redes sociais) e com perturbação da realidade.

Ricardo Costa, jornalista (grupo Impresa), admitiu-o. Nessa fase os jornalistas nem sempre tiveram cuidado a tratar a primeira pandemia num tempo de “comunicação total”, além de que o tema era novo, para cientistas e políticos também e “ninguém estava preparado”. E neste processo houve muita gente “a meter-se em coisas que não sabia”.

Foi uma fase em que as pessoas iam para as televisões, rádio e jornais “dizer o que lhe apetecia”, mas hoje mais de um ano do começo da pandemia, o balanço que se pode fazer, atual e não sobre o passado, é que a comunicação institucional tem de ser mais profissional, defendeu Fausto Pinto, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

E essa má comunicação pode ter consequências, por exemplo no processo de vacinação, avisou.

Não foram muito diferentes as posições dos outros intervenientes. Roberto Roncon, professor e médico no Hospital de S. João, disse que por vezes é importante alguma humildade, não falar publicamente de assuntos sobre os quais nada se tem a acrescentar, e Cristina Sampaio, professora de farmacologia clínica, frisou que “falhou a comunicação em saúde pública” e acrescentou que os efeitos de uma má comunicação é a perda de confiança dos seus interlocutores.

O Governo, disse, tem de investir numa comunicação mais eficiente, profissional e clara e “menos exuberante”.

No mesmo sentido, Rosário Zincke, disse que a informação contraditória gera insegurança e descrença, acrescentando que nestes tempos de pandemia se comunicou muito, “parecia que não havia mais nada”, mas não da melhor forma.

Eduardo Nogueira Pinto, advogado, resumiu as deficiências apontadas assim: “o que falhou foi não se terem criado canais oficiais que comunicassem com mais clareza e substância”.

E falhou também a “tradução” de conceitos difíceis de entender pela população, segundo Cristina Sampaio.

Gouveia e Melo não falou em falhas, mas falou da necessidade de haver uma comunicação que envolva as pessoas. E aproveitou para avisar que o atual combate só acaba quando a epidemia estiver controlada, e que as pessoas devem decidir sobre as vacinas de forma mais racional e não emotiva.

E também sobre elas, mas também sobre a comunicação Roberto Roncon: “Às vezes precisamos de usar uma mensagem direta e inequívoca”.

E deixou uma mensagem que considerou clara e inequívoca. O perfil de idades nos Cuidados Intensivos “não tem nada a ver” com o de há meses, porque há muito poucos doentes com mais de 65 anos. É um facto e um exemplo da eficácia das vacinas.

LUSA/HN

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