A falta de oxigénio, fluidos intravenosos e mesmo peças sobressalentes para equipamento médico tornaram as operações cirúrgicas praticamente impossíveis nos últimos seis meses, afirmam os médicos do Ayder Referrel Hospital, em Makele, a capital de Tigray, numa declaração divulgada esta terça-feira.
“Como resultado, crianças estão a ser deixadas a morrer, doentes com cancro tratáveis não estão a receber cuidados, doentes com fraturas são forçados a permanecer imobilizados”, acrescentaram os médicos, citados pela agência France-Presse.
“Os pacientes estão a morrer quando poderiam ter sido facilmente salvos por uma simples hemodiálise. Os doentes que há anos recebem diálise no nosso hospital estão a morrer porque o equipamento que deveria ter chegado até nós, não pôde chegar”, lamentaram ainda.
O acesso ao estado de Tigray, no norte da Etiópia, é restrito e a informação dada pelos médicos não pôde ser confirmada de forma independente pela AFP.
Mas a região está toda sujeita a um ‘blackout’ das comunicações e as Nações Unidas já denunciaram o “efetivo bloqueio” à chegada da ajuda humanitária destinada aos seis milhões de habitantes do Tigray.
Nenhum camião de ajuda humanitária chegou a Tigray desde 14 de dezembro e alguns camiões que estavam à espera de entrar na região foram saqueados, denunciou o Gabinete da ONU para a Coordenação dos Assuntos Humanitários, OCHA.
Os médicos do Ayder Referrel Hospital disseram que tinham pedido ajuda aos comerciantes de Mekele para obterem sabão e detergentes, enquanto as enfermeiras já não tinham luvas e o hospital tinha ficado sem antibióticos e analgésicos.
“Seja qual for a causa do conflito, não é justo privar os mais pobres dos pobres dos cuidados de saúde”, dizem os médicos tigray.
O conflito, que eclodiu em novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou tropas para Tigray para derrubar as autoridades locais, acusadas de rebelião, fez já milhares de mortos e expulsou mais de dois milhões de pessoas das suas casas, de acordo com a ONU.
LUSA/HN
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