“Long covid” atinge 10% a 20% dos infetados e é “imprevisível e debilitante”

24 de Fevereiro 2022

Entre 10% a 20% das pessoas com covid-19 sofrem de sintomas após recuperarem da fase aguda da infeção, uma condição “imprevisível e debilitante” que afeta também a saúde mental, alertou hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Embora os dados sejam escassos, estimativas recentes apontam que 10 a 20% das pessoas com covid-19 experimentam doença contínua durante semanas ou meses após a fase aguda da infeção”, refere o Relatório Europeu da Saúde 2021 da OMS hoje divulgado.

Segundo o documento, esta condição clínica conhecida por “long covid” ocorre em pessoas com um historial de infeção pelo SARS-CoV-2 geralmente três meses a partir do início da covid-19, com sintomas que duram pelo menos dois meses, sendo a fadiga, a falta de ar e a disfunção cognitiva os mais comuns.

“A condição pós-covid-19 é imprevisível e debilitante e pode, posteriormente, levar a problemas de saúde mental, tais como ansiedade, depressão e sintomatologia pós-traumática”, alerta o capítulo do relatório dedicado à pandemia.

De acordo com o documento da OMS Europa, o que influencia o desenvolvimento e gravidade do `long covid´ é, até agora, desconhecido, mas não parece estar correlacionado com a gravidade da infeção inicial por SARS-CoV-2 ou com a duração dos sintomas associados, sendo, porém, mais comum em pessoas que foram hospitalizadas.

“Espera-se que o número absoluto de casos aumente à medida que ocorrem novas ondas de infeção na região europeia e é necessária mais investigação e vigilância” a esta condição específica provocada pela covid-19, adianta ainda a OMS.

O relatório sobre a Saúde na Europa, que é publicado a cada três anos, refere ainda que as medidas de contenção da pandemia, como os confinamentos, “influenciaram negativamente os comportamentos de saúde” da população europeia.

Estas restrições tiveram impacto nos padrões de consumo de álcool, tabaco e de drogas em “partes significativas da população”, registando-se também “um aumento do comportamento sedentário e alterações negativas” ao nível alimentar.

A OMS adianta também que o encerramento de escolas e universidades em diversos países, durante as fases mais críticas da pandemia, teve um “impacto no bem-estar mental” das crianças e adolescentes.

“Uma análise recente mostra um número significativo de crianças que sofrem de ansiedade, depressão, irritabilidade, desatenção, medo, tédio e distúrbios do sono”, salienta a OMS, ao avançar que o encerramento de escolas durante os picos da pandemia em 2020 e 2021 tem provocado perdas na aprendizagem e perturbação no desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes.

“Os dados emergentes mostram perdas de aprendizagem correspondentes de um terço a um quinto de um ano letivo e foram reportadas mesmo em países com uma aplicação relativamente curta das medidas de saúde pública e sociais e o acesso generalizado à internet. Isto sugere que as crianças fizeram pouco ou nenhum progresso enquanto aprenderam em casa”, sublinha a organização.

O relatório evidencia ainda que, devido à natureza do seu trabalho, os profissionais de saúde estão em maior risco de infeção por SARS-CoV-2 e a prevalência de infeção é ligeiramente maior entre os profissionais de saúde do que na população em geral.

“As estimativas atuais mostram que cerca de 10% dos profissionais de saúde foram infetados. Cerca de 50% destes eram enfermeiros e 25% eram médicos”, adianta o documento.

A covid-19 provocou pelo menos 5.904.193 mortos em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 20.922 pessoas e foram contabilizados 3.219.439 casos de infeção, segundo a última atualização da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.

A variante Ómicron, que se dissemina e sofre mutações rapidamente, tornou-se dominante no mundo desde que foi detetada pela primeira vez, em novembro, na África do Sul.

LUSA/HN

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