Em causa podem estar situações de sofrimento, surpresa ou influenciadas por condições de crise, razão pela qual os psicólogos do INEM e os do Serviço de Urgência do CHUSJ passam a ter ‘via verde’ na transmissão de informação.
“Esta necessidade está há muito identificada. Efetivamente existe uma lacuna. Não é garantida a continuidade. Almejamos que este [protocolo hoje assinado entre o INEM e o CHUSJ] seja o primeiro de muitos idênticos. Estamos a colocar as pessoas no centro da equação”, afirmou Sónia Cunha, do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM.
Em declarações aos jornalistas, a psicóloga explicava que, na prática, o que acontece agora é que a informação que as equipas que estão no terreno têm é passada de forma “informal”, quando “se pretende que seja garantida a articulação entre os psicólogos que estão na rua e os que estão na Urgência”.
Já o diretor do Serviço de Psicologia do CHUSJ, Eduardo Carqueja, falou da necessidade de antecipar cenários e de encaminhar doentes que eventualmente necessitem de um contínuo de cuidados na área da Psicologia.
“Desta forma, todas as vezes que é necessária a colaboração de um psicólogo do hospital somos contactados antecipadamente por colegas do INEM. Assim, as pessoas são efetivamente acolhidas, não são só atendidas. São tratadas pelo próprio nome quando chegam à entrada do Serviço de Urgência”, referiu.
A título de exemplo, Eduardo Carqueja lembrou que transmitir o contexto daquela deslocação ao hospital ou a idade dos pacientes, entre outros aspetos, de psicólogo para psicólogo pode ter benefícios no cuidado a prestar.
“Saber que aconteceu um incêndio ou que a pessoa vive em condições muito degradadas é importante”, disse.
Este protocolo surge um ano depois do CHUSJ ter alocado psicólogos às equipas do Serviço de Urgência de Adultos e depois do mesmo modelo ter sido implementado em setembro na Urgência Pediátrica.
Dados dispensados à agência Lusa pelo CHUSJ apontam que, ao longo dos 12 meses de 2021, a equipa que engloba 25 psicólogos prestou assistência a mais de 150 pessoas que deram entrada no Serviço de Urgência.
Já na Urgência de Pediatria e na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos foram identificadas 25 ocorrências.
Além dos benefícios para o tratamento “adequado e imediato” do doente, Eduardo Carqueja sublinhou a importância da presença de psicólogos junto de familiares e de profissionais de saúde, lembrando que “a transmissão de notícias é algo muito impactante” e “tem de ser dado espaço ao médico, ao enfermeiro ou ao assistente operacional para trabalhar as emoções”.
O protocolo hoje assinado – pelos presidentes do CHUSJ e do INEM, Fernando Araújo e Luís Meira, respetivamente – inclui cooperação nos domínios clínico, da formação, investigação e intervenção na área da Psicologia Clínica.
Para o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do CHUSJ, Nelson Pereira, “este é um passo muito importante” para o atendimento imediato na admissão de doentes, mas também para o futuro desta área.
O médico destacou o contínuo de cuidados pré-hospitalares e intra-hospitalares e a referenciação de pessoas identificadas como a necessitar de cuidados psicológicos como mais-valias, mas somou o crescimento da Psicologia de Urgência, que “assim começa a ser possível através de colaboração e estágios”.
“As situações de catástrofe que agora vivemos também exigem uma colaboração conjunta nesta área”, acrescentou, referindo-se à pandemia da covid-19, bem como à guerra que opõe a Ucrânia à Rússia.
Nelson Pereira afirmou que “a figura do psicólogo é muito importante no Serviço de Urgência porque todos os dias se lida com situações limite como a morte e a perda”, e que “os doentes estão vulneráveis e toda a ajuda que lhe é dada é muito valorizada”.
LUSA/HN
0 Comments