Monkeypox: Vírus em circulação pertence a linhagem menos agressiva

24 de Maio 2022

O microbiologista João Paulo Gomes disse hoje que o vírus Monkeypox em circulação em vários países, incluindo Portugal, onde não é endémico, pertence a uma linhagem menos agressiva com origem na África Ocidental.

“Trata-se da forma menos severa do vírus”, afirmou à Lusa o investigador do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), em Lisboa, onde a equipa que dirige sequenciou o genoma do Monkeypox na origem do recente surto, tornando Portugal o primeiro país a fazê-lo.

João Paulo Gomes, responsável do Núcleo de Genómica e Bioinformática do Departamento de Doenças Infecciosas do Insa, onde o trabalho foi feito, acrescentou que o vírus atualmente em circulação em países onde não é endémico é da linhagem do vírus em circulação na África Ocidental, onde é endémico, mas menos agressivo.

Há uma segunda linhagem do Monkeypox, da África Central, onde também é endémico, que é mais agressiva.

De acordo com os especialistas do Insa, que já sequenciaram o genoma do Monkeypox de 10 pessoas infetadas, o vírus do surto detetado este mês “está mais intimamente relacionado com vírus associados à exportação do vírus Monkeypox da Nigéria para vários países em 2018 e 2019, nomeadamente Reino Unido, Israel e Singapura”.

João Paulo Gomes referiu que “potencialmente trata-se de uma introdução única” do vírus, importada, “que originou cadeias de transmissão que depois se foram disseminando por vários países”.

O investigador salientou que o vírus na origem do atual surto “apareceu há muito pouco tempo”, mas “está a evoluir” rapidamente, “a acumular mutações” genéticas, quando, por “características inerentes”, o Monkeypox “é um vírus que tipicamente tem uma taxa de mutação mais reduzida”.

“Em teoria, evolui mais do que estávamos à espera. Eventualmente mais tarde poderemos perceber que estas características genómicas podem estar associadas a uma maior transmissibilidade, ainda não sabemos”, sublinhou, apontando a sequenciação genómica como uma “ferramenta fundamental de apoio à decisão de saúde pública”.

Segundo João Paulo Gomes, “é importante que todos os países sequenciem, libertem as sequências” genéticas do vírus e “façam uma partilha pública” dos dados “para que rapidamente se possa construir a história deste surto, perceber qual foi o país de origem, perceber onde é que foi introduzido [o vírus] na Europa e no resto do mundo e qual foi a cronologia em termos de disseminação pelos vários países”.

O microbiologista considera que “não há motivo para preocupação”, mas, “acima de tudo, motivo para atuar, bloquear as cadeias de transmissão, para fazer uma vigilância forte e despistar rapidamente todos os casos suspeitos”.

“Não há dúvida que durante as próximas semanas vamos ver um evoluir muito agressivo desta situação, mas as características da transmissão do vírus não fazem prever que seja muito difícil a sua contenção”, sustentou, lembrando que é preciso um “contacto direto, muito próximo” para que a transmissão ocorra entre pessoas.

O Monkeypox, da família do vírus que causa a varíola, é transmitido de pessoa para pessoa por contacto próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados.

O tempo de incubação é geralmente de sete a 14 dias, e a doença, popularmente conhecida por varíola dos macacos, dura, em média, duas a quatro semanas.

A Direção-Geral da Saúde recomenda às pessoas que apresentem lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço, que procurem aconselhamento médico.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

DGS Define Procedimentos para Nomeação de Autoridades de Saúde

A Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu uma orientação que estabelece procedimentos uniformes e centralizados para a nomeação de autoridades de saúde. Esta orientação é aplicável às Unidades Locais de Saúde (ULS) e aos Delegados de Saúde Regionais (DSR) e visa organizar de forma eficiente o processo de designação das autoridades de saúde, conforme estipulado no Decreto-Lei n.º 82/2009.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights