“Estes profissionais foram os mesmos que ajudaram na covid-19 e que foram tão elogiados. Só passaram dois anos, não passaram 20 e mesmo que passassem 20 devíamos ter boa memória (…). Estou certo de que, na esmagadora maioria, quem está a manifestar esta indisponibilidade é porque quer um SNS [Serviço Nacional de Saúde] melhor”, disse Roberto Roncon.
Mais de 30 hospitais do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos, na sequência de mais de 2.500 médicos terem entregado escusas ao trabalho extraordinário, além das 150 horas anuais obrigatórias, em protesto após mais de 18 meses de negociações sindicais com o Governo.
Esta crise já levou o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, a admitir que este mês poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.
Salvaguardando que “o direito ao protesto tem sido sempre respeitado” no CHUSJ, o diretor clínico contou hoje à Lusa que, para preencher escalas foi pedida “informalmente” e “em ocasiões pontuais” a ajuda de médicos que “já tinham apresentado o papel de indisponibilidade”, tendo a resposta sido “empática”.
“As pessoas sabem distinguir muito bem aquilo que é uma real e esporádica necessidade e o não respeitar um protesto. As pessoas sabem que respeitamos o protesto”, referiu.
Considerando que “o SNS é um dos principais cimentos sociais do país” e que “a coesão social e a paz social” de que Portugal goza “muito a deve ao SNS”, Roberto Roncon insistiu: “As pessoas querem um SNS melhor, mas também querem fazer-se ouvir”.
Hospital fim de linha, o CHUSJ está já a receber doentes de mais seis centros hospitalares: Viana do Castelo, Braga, Barcelos, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Matosinhos e Tâmega e Sousa.
Preencher as escalas exige “todos os dias uma enorme ginástica”, disse Roberto Roncon, lembrando que os recursos “não são ilimitados”, mas que em causa está o doente agudo grave e para esses casos “não existem alternativas”.
“O São João não está a atenuar a crise, a única coisa que está a fazer é a dar resposta a uma população que não tem alternativa. É óbvio que mais cedo ou mais tarde essa reorganização vai ter impacto”, resumiu.
E, recordando mais uma vez que quem está hoje no centro da crise foi quem esteve na linha da frente na pandemia, Roberto Roncon recordou: “Falou-se muito em ‘burnout’. Se nos outros hospitais há profissionais desgastados, tenho muito respeito por eles, mas peço que também respeitem os meus profissionais e as minhas equipas. Não tem sido fácil”.
LUSA/HN
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