Num documento a que a Lusa teve acesso e que será entregue à tutela, os peritos lembram que as infeções respiratórias por RSV obrigam a hospitalizar por ano 5,6 crianças em cada 1.000 com menos de cinco anos de idade.
“Aos 12 meses de idade, aproximadamente metade das crianças já teve uma infeção pelo vírus sincicial respiratório. (…) E os estudos dizem que aos três anos todas as crianças já tiveram pelo menos uma vez o vírus sincicial respiratório”, diz à agência Lusa o pediatra Manuel Magalhães, do Centro Materno-Infantil do Norte, que participou neste trabalho.
O médico explica que a infeção pode ir desde uma simples constipação até ao “quadro grave de bronquiolite aguda ou pneumonia vírica”, com necessidade de internamento em cuidados intensivos, alertando que dependendo de alguns fatores (bebés prematuros, com baixo peso ou que têm patologia crónica), o risco de mortalidade aumenta.
No documento, os peritos sublinham que a maioria das hospitalizações (95%) “ocorrem em crianças saudáveis” e lembrando que o real impacto do RSV em Portugal está “significativamente subestimado”, apontando para a necessidade de melhorar a estratégia de combate, que consideram ineficaz.
As recomendações agora conhecidas surgiram na sequência do RSV Think Tank – Inspirar à mudança, uma iniciativa Sanofi conduzida em parceria com a XXS – Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro e a APES – Associação Portuguesa de Economia da Saúde. O painel de especialistas contou com a participação de médicos pediatras e neonatalogistas, médicos de saúde pública, enfermeiros, economistas, associações de pais, autoridades de saúde e decisores.
Além de apontarem a necessidade de conhecer o real impacto destas infeções em Portugal – recordando que apenas se conhece o peso dos casos que chegam aos hospitais -, insistem na importância de definir medidas a três níveis: literacia, farmacológicas e não farmacológicas.
Para ultrapassar as barreiras quanto à literacia, recomendam que o tema passe a ser de abordagem obrigatória nas consultas com o pediatra para determinadas faixas etárias. Para isso, sugerem a alteraçao do boletim individual de saúde infantil e juvenil.
Para reduzir a disseminação do RSV, além das medidas habituais de proteção usadas na pandemia de covid-19 (máscaras e lavagem frequente das mãos), pedem que seja facilitado o processo burocrático da falta ao trabalho dos pais.
Se assim não for, os pais, não podendo faltar, acabam por ter de levar os filhos para as creches e aumentar as possibilidades de outras crianças serem contaminadas, adiantam.
Manuel Magalhães lembra que estas crianças “são vetores de transmissão do vírus sincicial respiratório para os adultos e para os avós”, que, se estiverem mais fragilizados, “também têm risco aumentado de doença grave e, eventualmente, mortalidade”.
Quanto às medidas farmacológicas, defendem a criação de um grupo de trabalho nacional dedicado ao RSV ou a reestruturação do grupo que desenvolveu a norma relativa ao Palivizumab, o anticorpo monoclonal usado para prevenir doença grave e que é administrado apenas a alguns casos prioritários.
Pretendem ainda que deva existir um “método preventivo universal” que seja disponibilizado “de forma equitativa” a todas as crianças.
Manuel Magalhães lembra que além anticorpoo monoclonal usado nalguns casos em Portugal (Palivizumab), está disponível um outro (nirsevimab), aprovado em Espanha.
França e Itália “estão também a avançar nesse sentido”: “A estratégia seria administrar este anticorpo monoclonal para prevenir infeção grave em crianças no primeiro ano de vida, protegendo-as a todas”.
“O palivizumab não estava aprovado para dar a todos, só mesmo aos bebés prematuros e com grande risco. Esta nova molécula [nirsevimab] está testada e aprovada para dar a todos, de forma segura. A administração universal antes da época sazonal do RSV pode verdadeiramente mudar a doença respiratória aguda na infância”, acrescenta.
LUSA/HN
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