“O que está em falta é exatamente – e como dizia a recomendação ao Governo que foi aprovada na Assembleia da República há mais de um ano – definir e implementar uma estratégia de acesso à reabilitação para todos” os que sofreram um AVC, adiantou à agência Lusa o presidente da associação criada em 2016.
António Conceição referiu que este vai ser um dos temas em debate na quarta-feira no parlamento, numa sessão a propósito do Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala em 31 de março, e que pretende contribuir para uma maior visibilidade política e mediática sobre a principal causa de morte e de incapacidade em Portugal.
Em novembro de 2021, o parlamento aprovou por unanimidade uma resolução a recomendar ao Governo que desenvolvesse, no prazo de três meses, uma estratégia de acesso aos cuidados de reabilitação “eficaz, multidisciplinar e de abrangência nacional para os sobreviventes” de AVC.
A resolução pedia também ao executivo que reforçasse as equipas de reabilitação em todos os centros hospitalares e extra-hospitalares, através da contratação de profissionais de reabilitação, para a constituição completa das equipas multidisciplinares.
Passados cerca de 15 meses da sua publicação em Diário da República, “essa é uma pergunta que vamos fazer. O que foi feito e está a ser feito para a definição desta estratégia para a reabilitação”, avançou António Conceição, para quem o “estado atual das coisas é igual ou pior do que era na altura”.
Segundo o presidente da Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos, o país apresenta um “panorama dramático” ao nível dos cuidados de reabilitação de quem sobrevive a um AVC, com “disparidades gritantes”.
“É dramático porque faltam respostas do Serviço Nacional de Saúde, mas não só. Antes de mais nada, essa reabilitação tem de ser encarada como multidisciplinar e atempada. Cada AVC tem sequelas muito diferentes de pessoa para pessoa”, adiantou António Conceição.
De acordo com o presidente da associação, os cuidados de reabilitação têm, por isso, de abranger áreas como a fisioterapia, a terapia da fala e ocupacional, a enfermagem, a psicologia e nutrição, entre outras.
Na maioria dos casos a reabilitação cabe a entidades privadas e sociais, “onde a qualidade oferecida – e que em geral é só fisioterapia – deixa muito a desejar”, alertou o responsável da AVC Portugal, ao salientar ainda que “não existe um controlo sobre a qualidade” desses cuidados.
António Conceição considerou também que a ausência de uma “estratégia eficiente de acesso” a esta reabilitação “constitui um autêntico tiro no pé que o Estado dá”, tendo em conta os custos sociais e económicos que daí resultam.
Segundo preconizou, além do reforço do número de profissionais de saúde para as várias áreas, é necessário um maior controlo da qualidade da reabilitação disponibilizada em Portugal, para minimizar as “enormes desigualdades que se praticam” conforme a unidade hospitalar em que o doente é atendido, a localização geográfica, a capacidade económica, entre outros fatores.
“No pós-pandemia, é frequente surgirem – e bem – estatísticas e dados sobre o número de consultas e de cirurgias, mas quem fala dos cuidados de reabilitação? Os cuidados de reabilitação tiveram, durante a pandemia, uma perda de 15 milhões de atos, já sem discutir a qualidade, com custos tremendos para os próprios, para a família e para o Estado e para sociedade”, alertou.
António Conceição adiantou ainda que os últimos números disponibilizados pela Direção-Geral de Saúde, referentes a 2016, apontavam para cerca de 25 mil casos por ano em Portugal e que, segundo os dados do INE para 2020, os AVC mantiveram-se como a principal causa de morte, mesmo à frente da covid-19.
LUSA/HN
0 Comments